Penalizada pelo Ocidente por conta da invasão à Ucrânia, a Rússia recorre a “petroleiros fantasmas”, com risco maior de vazamento, para seguir vendendo combustíveis fósseis.
A frota “fantasma” de navios petroleiros da Rússia pode se transformar em uma bomba-relógio ambiental. Duas análises divulgadas na semana passada mostraram como o uso crescente de navios sem registro nem seguro – e, em muitos casos, sem condições para transportar toneladas de óleo – está ampliando o risco de vazamentos no mar.
A primeira, elaborada pelo Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA), identificou pelo menos 294 navios-tanque “fantasmas” sendo utilizados pelos russos para despachar petróleo bruto, com uma média de três navios saindo diariamente dos portos do país.
O trânsito dessas embarcações também aumentou nos principais corredores de transporte marítimo internacional. De janeiro a agosto de 2024, a circulação desses “petroleiros fantasmas” aumentou 277% no estreito dinamarquês, que separa o Báltico do Mar do Norte, em relação ao mesmo período em 2022.
Nos estreitos de Dover e Gibraltar, o trânsito dessas embarcações aumentou 355%, similar à alta de 351% registrada no estreito da Coreia. No Canal de Suez, no Egito, o crescimento é ainda mais substancial: alta de 649% na comparação com os oito primeiros meses de 2022.
Desde o começo da guerra na Ucrânia, os “petroleiros fantasmas” já se envolveram em 50 incidentes associados às péssimas condições de transporte e de manutenção dessas embarcações. O maior petroleiro da frota russa é capaz de levar aproximadamente 100 mil toneladas de óleo, e os custos médios de limpeza em caso de vazamento podem variar de US$ 859 milhões na Europa a US$ 1,6 bilhão na Ásia.
O impacto ambiental potencial dos “petroleiros fantasmas” também foi destacado pela Kyiv School of Economics (KSE). O relatório indica que a Rússia investiu US$ 10 bilhões desde 2022 para expandir essa frota paralela, que hoje transporta mais de 70% de suas exportações marítimas de petróleo.
A análise também propõe uma estratégia para mitigar os riscos ambientais associados à frota petroleira “fantasma”, voltada principalmente à exigência de seguro adequado contra derramamento de óleo para todas as embarcações petroleiras que circulam em mares internacionais. Ao mesmo tempo, a publicação defende que os países europeus intensifiquem a fiscalização contra a circulação dessas embarcações em seus mares, criando “zonas livres de petroleiros fantasmas”.
Os estudos foram abordados pelo Financial Times, Guardian, Newsweek e NY Times, entre outros.
ClimaInfo, 17 de outubro de 2024.
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