O dilema chinês na COP29: liderança global ou país em desenvolvimento?

Embate sobre financiamento climático revive polêmica em torno da posição da China no tabuleiro da UNFCCC, onde ela ainda é considerada um país em desenvolvimento.
22 de outubro de 2024
China energias renováveis brecar permissões carvão
Pexels

As últimas três décadas foram marcadas por transformações econômicas profundas em diversos países. Mas poucos viveram o que a China experimentou nesse período: a trajetória de uma economia pouco produtiva e atrasada para a de gigante tecnológico e geopolítico. A China de 2024 conserva poucos sinais da China de 1994. Mas, aos olhos da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e do próprio governo chinês, uma coisa se manteve de lá para cá – a posição da China como um país em desenvolvimento, tal qual os paupérrimos Malawi ou Ilhas Marshall.

Como a Bloomberg destacou, essa condição de “superpotência híbrida” está ficando cada vez mais insustentável dentro da arena da UNFCCC. Os países desenvolvidos, como Estados Unidos e os integrantes da União Europeia, não se cansam de apontar a incongruência de tratar a China pujante como qualquer outro país em desenvolvimento, especialmente em um contexto no qual a economia chinesa é uma das que mais emitem gases de efeito estufa.

A “gota d’água” pode acontecer este ano na COP29 de Baku, que precisa definir o futuro do financiamento climático internacional. As nações industrializadas demandam a diversificação das fontes de financiamento para além delas próprias – e que economias mais consolidadas, como é o caso da China, passem a contribuir de alguma forma.

A China, claro, é contrária à proposta. Autoridades e especialistas de Pequim lembram que, a despeito do crescimento econômico notável das últimas décadas, o país segue com uma parcela substancial de sua população em condição de pobreza. Além disso, os chineses sustentam uma argumentação que encontra eco em outros países emergentes, como Índia e Brasil: mesmo que seja um grande emissor agora, a responsabilidade histórica pela crise climática segue no colo das nações industrializadas.

No entanto, esse argumento acaba dando guarida às peculiaridades da transição energética chinesa, que é lenta demais no que toca ao abandono do carvão, por exemplo. Um exemplo disso é o mercado de carbono chinês, que ainda não se mostrou capaz de efetivamente convencer suas indústrias a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Mais recentemente, o governo aumentou o número de licenças gratuitas para usinas de energia, com o objetivo de reduzir o preço dos créditos – que vinham em alta por conta da chegada de um prazo de conformidade no final do ano. A medida dá mais fôlego para as carvoeiras que, impulsionadas pelo governo chinês nos últimos anos, devem seguir operando sem maiores restrições.

  • Faltando menos de um mês para a COP29 de Baku, a lista de chefes de estado e de governo que participarão do encontro segue pequena. Segundo o Climate Home, pouco mais de 100 líderes mundiais confirmaram presença no segmento de alto nível, cerca de 20% abaixo do número registrado no ano passado. Entre as ausências mais destacadas devem estar os presidentes Joe Biden (EUA), Xi Jinping (China), Emmanuel Macron (França) e o primeiro-ministro Narendra Modi (Índia). A princípio, o presidente Lula participará, mas a decisão ainda depende de autorização médica depois do acidente doméstico do último final de semana.

     

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