“Sem dúvida, essas chuvas explosivas foram intensificadas pelas mudanças climáticas”, ressaltou Friederike Otto, do Imperial College London, que lidera um grupo internacional de cientistas climáticos.
Até a tarde de 5ª feira (31/10), 158 mortes foram confirmadas pelas autoridades de Valência, na Espanha, em decorrência do temporal que atingiu a região. A área foi a mais devastada por chuvas extremas que surpreenderam o país e despejaram em 24 horas o equivalente a um mês de precipitações.
Algumas áreas do leste e do sul espanhol receberam, em um único dia – ou até mesmo em oito horas –, o equivalente a um mês ou até um ano de chuva. A precipitação continuou até a manhã de ontem, enquanto cidades e vilarejos avaliavam os danos. Alguns distritos de Valência e Catalunha, na costa leste, permaneciam em alerta máximo, com mais chuvas esperadas ao longo do dia, de acordo com o New York Times.
O dilúvio transformou ruas de vilarejos em rios, destruiu casas e levou embora pontes, trilhos de trem e carros, destaca o Guardian. Até ontem ainda havia um número desconhecido de pessoas desaparecidas, enquanto milhares estavam sem eletricidade ou serviço de telefone. A maioria das vítimas fatais estava na região costeira de Valência.
Pesquisadores foram rápidos em destacar o peso da crise climática na tragédia, relata a BBC. “Sem dúvida, essas chuvas explosivas foram intensificadas pelas mudanças climáticas”, disse Friederike Otto, do Imperial College London, que lidera um grupo internacional de cientistas climáticos. Segundo os pesquisadores, a causa provável foi um fenômeno natural que ocorre na Espanha no outono e no inverno, mas vitaminado pelas alterações climáticas. Chamado de “gota fria”, o fenômeno envolve o ar frio descendo sobre as águas mais quentes do Mar Mediterrâneo. No entanto, o Mediterrâneo tem batido recordes de temperatura nos últimos anos.
Os cientistas calcularam que a crise climática impactou diretamente a quantidade de chuva, aumentando-a em 7% para cada 1°C de aquecimento. “A cada fração de grau de aquecimento causado pelos combustíveis fósseis, a atmosfera pode reter mais umidade, resultando em chuvas mais intensas”, explica Otto.
Além da impressionante destruição, as inundações desta semana são as mais mortais que a Espanha sofreu em décadas, segundo a CNN. Em 1959, 144 pessoas morreram em uma enchente na cidade espanhola de Ribadelago. No entanto, esse desastre foi causado pelo rompimento de uma barragem, que liberou água do reservatório Vega de Tera, não um evento climático.
O último desastre natural comparável ocorreu em 1996, quando enchentes mataram 87 pessoas perto da cidade de Biescas, nas montanhas dos Pirineus.
A tragédia na Espanha foi repercutida por New York Times, NBC, Euronews, Guardian, Newsweek, BBC, Guardian, Bloomberg, CBS e Guardian.
Em tempo: Na Ásia, o maior tufão a atingir Taiwan em 30 anos chegou ao sudeste do país ontem provocando chuvas intensas, cortes de energia, evacuações em massa e pelo menos uma morte. O tufão Kong-rey atingiu Taitung às 13h40 (horário local), segundo a Administração Central de Meteorologia de Taiwan. Chegando a ser um supertufão, Kong-rey enfraqueceu ligeiramente durante a noite, mas ainda equivalia a um furacão de categoria 4. Com um raio de tempestade de quase 320 km – abrangendo quase todo o comprimento de Taiwan –, Kong-rey atravessou o país de leste a oeste, informam Reuters, Washington Post, NBC, EFE e WION.
ClimaInfo, 1º de novembro de 2024.
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