“Perdemos o clima como aliado”: dengue se espalha pelo Brasil e desafia sistema de saúde

Dados e pesquisas mostram que expansão da dengue está diretamente relacionada às mudanças climáticas – e, justamente por isso, tem potencial para piorar ainda mais.
27 de janeiro de 2025
(NIAID via Flickr)

“Antes de 2010, contávamos o número de focos e não enchíamos os dedos das duas mãos. Não teve dengue transmitida em Florianópolis até 2014. A gente investigava os casos de maneira artesanal e intensiva. Não era uma doença daqui. Estamos perdendo o clima como aliado aqui no Sul.”

A fala é da médica Ana Cristina Vidor sobre a batalha do Brasil contra a dengue. Como gerente da vigilância epidemiológica da Secretaria de Saúde da capital de Santa Catarina, ela tem visto de perto a doença avançar pelo território nacional. Os prognósticos para o futuro são sombrios, já que dados e pesquisas mostram que a expansão da dengue está diretamente relacionada às mudanças climáticas. E não apenas no Brasil.

Uma nova análise do AdaptaBrasil, plataforma do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para avaliar os diferentes impactos da crise climática, procurou quantificar esse risco. Entre 2017 e 2022, uma média de 15% dos municípios do país tiveram incidência alta ou muito alta de casos de dengue, zika e chikungunya. Para 2030, se a temperatura média do planeta continuar aumentando – o que, pelo andar da carruagem, é algo quase certo –, 50% das cidades brasileiras passam a apresentar risco alto ou muito alto das arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti, de acordo com a estimativa antecipada, com exclusividade, à Agência Pública. Em 2050, serão quase 53% dos municípios.

“Entre 2017 e 2022 as regiões Sul e Norte tinham taxas de incidência dessas doenças muito baixas. Mas, quando a gente começa a fazer a combinação de variáveis de vulnerabilidade e exposição, vemos o risco aumentar para essas regiões”, explica Cassia Lemos, pesquisadora do INPE e assessora de conteúdo da plataforma AdaptaBrasil. “No caso da dengue, a temperatura mínima é importante para o desenvolvimento do Aedes aegypti. Essa mínima está aumentando no país como um todo. O Sul, que tinha temperaturas mais frias, começa a ter condições favoráveis.”

No ano passado, a dengue matou mais gente no Brasil que a COVID-19. Foram mais de 6.000 mortos. O número de casos também foi recorde em 2024: mais de 6,6 milhões de casos prováveis. A quantidade de contaminados quadruplicou em relação a 2023.

Os casos registrados neste início de 2025 só perdem para 2024. Já foram confirmadas cinco mortes causadas pela dengue e 69 estão em investigação, informa o Metrópoles. Nas duas primeiras semanas epidemiológicas de 2024, houve 112.956 casos prováveis da doença. Em igual período de 2025, foram 57.879. No início de 2023, foram 26.978 casos prováveis.

A preocupação cresce ainda mais com o registro de casos com o sorotipo 3 (DENV-3) da dengue, relatam g1 e Metrópoles. Desde 2008, o tipo 3 circula no país em baixíssima frequência. Mas essa proporção vem aumentando. Neste ano, já foram confirmados 10 casos do sorotipo 1, 184 do 2, e 138 do 3.

“Há uma grande parcela da população que não teve contato com ele [sorotipo 3] e, portanto, pode haver aumento no número de casos e também de casos graves”, diz a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein.

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