Petróleo na Amazônia: críticas ao IBAMA respingam óleo em imagem de Lula no ano da COP30 

Reservadamente, integrantes do governo consideram que presidente “exagerou” nas críticas e temem impacto de eventual demissão do chefe do IBAMA para a Conferência do Clima.
13 de fevereiro de 2025
(Marizilda Cruppe/Greenpeace)

O destempero do presidente Lula em suas críticas ao IBAMA pode custar caro para o projeto político do Brasil para a COP30. Integrantes do governo consideraram que o discurso fora do tom contra o principal órgão ambiental federal, parte da pressão política pela licença ambiental para pesquisa sobre potencial petrolífero na foz do rio Amazonas, pode manchar a imagem que o país quer projetar nas negociações climáticas que acontecerão em Belém (PA).

Segundo a CNN Brasil, até mesmo defensores do projeto se surpreenderam com a fala de Lula. No Palácio do Planalto, auxiliares defendem que o presidente faça uma nova declaração, com o objetivo de amenizar o mal-estar e evitar que isso contamine os esforços do governo federal na organização da COP30.

Dentro e fora do IBAMA, a fala de Lula foi recebida com decepção e frustração. Segundo a Folha, um integrante do alto escalão do governo afirmou, sob reserva, que a situação só serve para criar animosidade e “forçar a barra” para que o órgão acelere a análise técnica do pedido de licenciamento.

Para a ex-presidente do IBAMA, Suely Araújo, a pressão é inaceitável e desconsidera o papel do próprio órgão. “O presidente da República foi inaceitavelmente desrespeitoso com os servidores do IBAMA e seu dirigente. É preciso lembrar que todos os empreendimentos da Petrobras e de outras petroleiras no mar foram licenciados pelo IBAMA”, afirmou ao jornal O Globo.

Araújo, que hoje atua como coordenadora de política ambiental do Observatório do Clima, destacou ao Estadão que o processo técnico não pode ser atropelado por interesses políticos. “O órgão responsável pelo licenciamento ambiental federal é o IBAMA. Não cabe recurso à ministra Marina Silva, ao ministro de Minas de Energia e nem ao próprio presidente Lula. Existe uma legislação que requer muitas análises técnicas e a decisão final é do presidente da autarquia”, disse.

As críticas de Lula intensificaram o burburinho em Brasília em torno do futuro do presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho. A possibilidade de sua demissão por conta de um projeto de exploração de petróleo é tudo que o Brasil não precisa enquanto se prepara para receber uma COP do clima.

“Você derramará petróleo sobre a cúpula climática que o Brasil vai sediar. O país chega com um discurso desconexo. Lula estaria na contramão desse esforço. Demitir Rodrigo Agostinho seria um tiro de bazuca no próprio pé”, observou o jornalista Josias de Souza no UOL.

“A nove meses da COP30, o Brasil dobra a aposta na expansão de petróleo, na contramão de seu próprio compromisso com a Missão 1,5oC, tentativa de proteger a meta assumida no Acordo de Paris”, destacou o Observatório do Clima.

  • Em tempo: Em entrevista à Miriam Leitão no jornal O Globo, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que pretende criar um conselho de economistas, brasileiros e estrangeiros, para assessorar o comando da conferência nas discussões referentes à economia e às finanças. Ao mesmo tempo, o diplomata reconheceu que, depois de uma sequência de COPs em países pouco afeitos ao debate público, “há uma imensa expectativa de que o Brasil, país democrático, [queira] uma grande presença da sociedade civil [na COP30]”. Ele também reforçou que o governo está atuando para conter os preços abusivos que estão sendo cobrados para hospedagem em Belém.

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