Presidência da COP30 defende “mutirão global” por ação climática

Em carta, André Corrêa do Lago destacou a crise climática como um "inimigo em comum" de toda a Humanidade e defendeu o fortalecimento do multilateralismo como caminho para ação.
10 de março de 2025
COP30
(MMA)

O presidente-designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, divulgou nesta 2ª feira (10/3) uma carta pública na qual descreve a visão e os objetivos do Brasil no comando da próxima Conferência da ONU sobre o Clima, programada para acontecer em Belém (PA) no mês de novembro. No texto, o diplomata reiterou o discurso do governo brasileiro em defesa do multilateralismo como caminho para ação e destacou a necessidade de um “mutirão global” para enfrentar as causas e as consequências da crise climática.

“2025 tem de ser o ano em que canalizaremos nossa indignação e tristeza para uma ação coletiva construtiva. A mudança é inevitável – seja por escolha ou por catástrofe. (…) Se optarmos por nos organizar em uma ação coletiva, teremos a possibilidade de reescrever um futuro diferente. Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia, mas sim pela resiliência e pela agência em direção a uma visão que nós mesmos projetados”, argumentou Corrêa do Lago.

Em meio ao recrudescimento das tensões geopolíticas ao redor do mundo, a carta lembra o 80º aniversário do final da Segunda Guerra Mundial e da criação das Nações Unidas para apontar as mudanças climáticas como um inimigo comum de toda a Humanidade. Como o presidente da COP pontuou, as negociações em Belém podem ser chave para uma “virada” na luta contra a crise do clima.

“Nesta década crítica, o Brasil convoca novamente nossa aliança de povos para, mais uma vez, deixarmos nossas diferenças de lado e nos unirmos para vencer o inimigo comum: a mudança do clima. Desta vez, contamos com bases sólidas que nos levarão à vitória. A ciência confirma que temos os recursos para combater a mudança do clima”, afirmou Corrêa do Lago. “A COP30 pode ser o momento em que alinharemos os fluxos financeiros internacionais e integraremos as transições digital e climática em uma única nova revolução industrial que seja consciente em relação ao clima”.

Em linha com o argumento do “mutirão global”, Corrêa do Lago também defendeu a mobilização de líderes e partes interessadas para além dos governos nacionais, em uma forte sinalização em prol da participação da iniciativa privada, sociedade civil, academia e governos subnacionais, entre outros atores.

“A presidência [da COP30] recrutará agentes entre as partes interessadas não estatais para se associarem como ‘alavancas’, ajudando a aplicar soluções em ‘pontos de alta alavancagem’, onde pequenas mudanças podem resultar em grandes impactos no comportamento de sistemas complexos. Os incentivos que representam as regras e os limites de nossos sistemas podem se tornar fortes pontos de alavancagem para transições climáticas justas, rápidas e abrangentes”, defendeu o diplomata.

A questão do financiamento climático, um dos pontos de tensão mais agudos nas negociações dos últimos anos, também é destacado pelo texto da presidência da COP30. A carta lembra o “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, definido na última COP29 como uma das frentes para destravar os fluxos de financiamento para viabilizar o montante de US$ 1,3 trilhão anuais na próxima década, além de reiterar a necessidade de uma reforma do sistema financeiro internacional em linha com os objetivos climáticos globais.

Apesar do tom propositivo, a carta deixa em segundo plano outro espinho afiado que incomodou os negociadores do clima nos últimos anos – o fim da queima de combustíveis fósseis. Como destacou o Observatório do Clima (OC), a única citação ao tema remete à decisão da COP28 de Dubai, em 2023, na qual os países concordaram em “se distanciar” dos combustíveis fósseis; fora isso, o texto simplesmente ignora a questão.

“Para que os combustíveis fósseis entrem na pauta da conferência será necessário um amplo processo de pressão e união sobre o tema. Apesar do cenário internacional adverso, a liderança do Brasil na COP30 abre essa possibilidade”, comentou Marcio Astrini, secretário-executivo do OC. “A carta da presidência diz que a COP30 pode iniciar uma inflexão na luta contra a crise climática e que podemos ganhar de virada. Para virar esse jogo, o Brasil terá que jogar no ataque”.

A carta pública da presidência da COP30 teve grande repercussão nas imprensas nacional e internacional, com matérias em Agência Pública, Bloomberg, Capital Reset, Climate Home, CNN Brasil, Correio Braziliense, Deutsche Welle, Estadão, Folha, g1, Guardian, Metrópoles, O Globo, O Tempo, UOL e Valor, entre outros.

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