
A ONU intensificou a pressão sobre os países da União Europeia para acelerar a apresentação de sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para o Acordo de Paris. O atraso na submissão do documento – que deveria ter sido finalizado no começo de fevereiro – e os recentes cortes nos orçamentos de ajuda internacional despertaram temor entre observadores e ativistas sobre a possibilidade de uma nova NDC menos ambiciosa por parte do bloco.
Em discurso realizado na última 4ª feira (26/3) em Berlim (Alemanha), onde ocorreram os Diálogos Climáticos de Petersberg, o secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, reforçou a importância da UE apresentar o quanto antes sua nova NDC e que os novos compromissos climáticos sejam mais ambiciosos. Para ele, o bloco europeu deve mostrar “liderança” na ação climática global.
“À medida que um governo se afasta da liderança climática, ele abre espaço para outros se adiantarem e aproveitarem os vastos benefícios oferecidos”, disse Stiell, em alusão à saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. “A transição para energias limpas pode ser o motor econômico da Europa, agora – quando novas fontes de crescimento são vitais para sustentar os padrões de vida – e nas próximas décadas.”
O chefe da UNFCCC também alertou para o risco da diminuição dos fluxos de ajuda internacional, inclusive para ação climática, pelos países europeus. Nos últimos meses, os governos de Alemanha, França e Reino Unido, entre outros, anunciaram ou estão estudando cortes orçamentários em financiamentos para países pobres como uma maneira de viabilizar mais recursos para fortalecer os gastos militares e de defesa.
“[A ação climática global] depende de uma ordem internacional robusta e baseada em regras, que por sua vez, depende da Europa ser vista como um parceiro forte, confiável e estratégico, [para] unir nações e fortalecer a cooperação internacional. Isso também significa colocar o dinheiro onde ele é mais necessário, continuar a financiar a ação climática em outros países, especialmente aqueles que mais precisam de ajuda”, disse Stiell.
Os anfitriões alemães subscreveram os alertas de Stiell, ao menos na retórica. A ministra do Exterior, Annalena Baerbock, destacou que o enfrentamento da crise climática também é uma política de segurança e defesa. Já o premiê alemão Olaf Scholz afirmou “lamentar profundamente” a saída norte-americana do Acordo de Paris e reforçou que Washington perderá “enormes” oportunidades econômicas.
A “fuga” dos EUA de Donald Trump também foi lamentada pelo comissário da UE para o clima, Wopke Hoekstra. Para ele, a decisão tem efeitos não apenas diplomáticos mas também psicológicos. “É algo para o qual a Humanidade está ou deveria estar realmente unida. Afeta a todos, seria uma obrigação resolvermos juntos”, disse, citado pela Folha.Bloomberg, Climate Home, Deutsche Welle e Reuters repercutiram as falas dos líderes durante os eventos desta semana em Berlim.