
Parte da eletricidade gerada no Nordeste pelas usinas eólicas e solares não chega aos consumidores por dois tipos de restrição na transmissão elétrica. Uma delas é que a capacidade das plantas aumentou mais rapidamente do que os fios e subestações que compõem o sistema. Um pedaço particularmente importante da transmissão limita quanta eletricidade o subsistema Nordeste pode mandar para o Sudeste-Centro Oeste, onde fica a maior demanda.
A outra restrição é a segurança e a confiabilidade do sistema. O último grande apagão, em agosto de 2023, foi provocado por uma instabilidade causada por uma grande planta eólica que, ao se propagar, foi derrubando subestações, obrigando o Operador Nacional do Sistema (ONS) a desligar quase tudo. Desde então, o ONS elevou os níveis de segurança que, em algumas circunstâncias, limita a quantidade de eletricidade que as eólicas podem despachar.
O nome pomposo para essas limitações é curtailment, que, por vezes, faz o consumidor pagar mais caro pela eletricidade de térmicas fósseis que entram no lugar das renováveis “curtailadas”, e gera um tremendo problema de caixa para as plantas que não puderam vender a energia gerada. Essa turma promete entrar na Justiça para manter seu fluxo de caixa, entregando ou não energia.
Ontem, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) do Ministério de Minas e Energia, mandou o ONS estudar como abrandar os níveis de segurança e deixar mais eletricidade renovável entrar no sistema. Recentemente, novas linhas de transmissão e subestações entraram em operação, ajudando a escoar a geração renovável do Nordeste. Mas não é o suficiente.
O CMSE foi avisado de que o nível dos reservatórios das hidrelétricas ficará abaixo da média histórica nos próximos meses. Será importante contar com as renováveis no Nordeste para o brasileiro não pagar as caras bandeiras vermelhas e emergenciais por causa do acionamento das termelétricas a combustíveis fósseis – sem falar nas emissões de gases de efeito estufa dessas plantas, que agravam as mudanças climáticas.
A encrenca do curtailment também apareceu em Valor, UOL, IstoÉ, Reuters e n’O Globo.
Em tempo: Antes tarde do que tarde demais: depois da tragédia das inundações no Rio Grande do Sul, consequência da queima de combustíveis fósseis, o governo do estado está promovendo um trabalho para elaborar um “Plano de Transição Energética Justa das regiões carboníferas do Estado”. Com a ajuda de duas organizações climáticas, está promovendo entrevistas com atores-chave nos governos do estado e dos municípios carvoeiros e, ontem, abriu uma consulta pública para quem quiser mandar seus pitacos. O objetivo é garantir empregos para quem trabalha no setor e mitigar o impacto econômico para a região. O Jornal do Comércio deu uma matéria a respeito.