ANP interdita plataforma da Petrobras por risco ao meio ambiente

Petroleira quer mostrar a segurança da eventual operação na foz do Amazonas, mas não explica grave acidente e alto risco operacional.
22 de abril de 2025
plataforma petrobras risco meio ambiente
Emerson Costa/Divulgação

Uma das narrativas da Petrobras na pressão sobre o IBAMA pela licença para perfurar um poço de petróleo no bloco FZA-M-59, na bacia sedimentar da foz do Amazonas, é tentar se vender como uma empresa capaz de garantir segurança operacional. O fato da petroleira liderar o ranking de autuações por descumprir leis ambientais, como mostrou a Agência Lupa, pôs essa narrativa em xeque. Agora, dois episódios graves ocorridos em plataformas na Bacia de Campos – região onde a petroleira opera há mais de 50 anos – reforçam ainda mais o temor sobre o estrago que a companhia pode causar na foz.

Dez trabalhadores continuavam internados em hospitais de Campos dos Goytacazes e Macaé, no Norte Fluminense, um deles em estado grave, após uma explosão na plataforma PCH-1, na 2ª feira (21/4). Segundo o coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SINDIPETRO-NF), Sérgio Borges, houve 32 feridos, sendo 14 por queimaduras e 18 por inalarem fumaça, informaram g1 e CNN. Um trabalhador caiu no mar e foi resgatado.

A PCH-1, instalada no campo de Cherne, opera desde 1983 e está em processo de descomissionamento. Embora já não produza petróleo desde 2020, a unidade recebia gás fóssil de outras plataformas, segundo o sindicato. No momento da explosão havia mais de 170 trabalhadores na plataforma, e pelo menos 100 deles permaneceram na PCH-1 após o fogo ter sido debelado.

Alguns dias antes, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) determinou a interdição de outra plataforma da Petrobras na Bacia de Campos: a P-53, que opera no campo de Marlim Leste. A decisão do órgão regulador se deu após uma auditoria feita no início deste mês identificar riscos graves e iminentes à vida de trabalhadores e ao meio ambiente, relatou o R7.

De acordo com o SINDIPETRO-NF, o relatório técnico da ANP apontou diversos desvios críticos de segurança, muitos semelhantes aos já identificados em uma interdição anterior da mesma plataforma em fevereiro de 2024. Entre os principais problemas estão a degradação severa de estruturas críticas, ausência de medições técnicas confiáveis, falhas na avaliação de danos e omissões no envio de relatórios técnicos fundamentais, como o relatório estrutural feito por entidade especializada, que sequer foi encaminhado à agência.

Ainda segundo o documento, vigas com grande degradação estrutural, inclusive as que servem de suporte para tubulações de fluidos perigosos, foram ignoradas pela Petrobras nos relatórios apresentados. A ANP alertou que tais falhas comprometem diretamente a segurança em cenários de incêndio e explosões, colocando em risco uma população a bordo (POB) de 240 pessoas.

O coordenador do Departamento de Saúde do sindicato, Alexandre Vieira, disse que a própria Petrobras realizou uma auditoria interna, cujos resultados teriam sido alterados. “Houve pressões sobre as equipes auditoras, e até um outro relatório, diferente, foi enviado pela área corporativa da empresa. O SINDIPETRO denunciou essa auditoria. Tudo isso foi verificado pela ANP, que identificou a continuidade de problemas na gestão de segurança da unidade.”

Vieira reforçou que o alto risco operacional na P-53 não é um caso isolado na Petrobras. O SINDIPETRO-NF informou que já havia denunciado problemas de segurança na região. Segundo o coordenador de Saúde, o sindicato teve conhecimento de outras denúncias similares fora da Bacia de Campos.

Em relação à explosão na PCH-1, a Petrobras formará uma comissão para investigar o acidente, informaram Agência Brasil e CBN. O SINDIPETRO-NF designou a diretora Bárbara Bezerra para integrar o grupo.

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