Violência no campo se intensifica em áreas de expansão do agronegócio

AMACRO e MATOPIBA estão no foco dos conflitos por terra e números não cederam significamente após início do governo Lula.
23 de abril de 2025
violência expansão agronegócio
Tiago Miotto/ Cimi

O avanço das fronteiras do agronegócio na Amazônia e no Cerrado continuam ditando a violência praticada no campo no Brasil, apontou o relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2024, do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (CPT), divulgado nesta 4a feira (23/4).

A análise foi focada nas regiões da AMACRO (na tríplice fronteira entre Amazonas, Acre e Rondônia) e de MATOPIBA (nas áreas que conectam Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), apontadas como territórios a serviço da dominação de um patronato rural que se reconfigura com novas práticas de grilagem e violência.

Os dados expõem os impactos brutais do avanço do agronegócio sobre os conflitos no campo, especialmente disputas por terra e violências associadas à expansão desse modelo, a destruição de florestas, rios e comunidades, desmentindo a narrativa de que mortes e violências são “custos inevitáveis” do progresso.

Em 2024, o Brasil registrou 2.185 conflitos no campo, o segundo maior número da série histórica, atrás apenas de 2023. Desses, 1.768 foram conflitos por terra, mantendo o patamar elevado da última década, enquanto casos de incêndios cresceram 113% e o desmatamento ilegal, 39%, com a Amazônia Legal como principal alvo. A contaminação por agrotóxicos atingiu o maior índice em dez anos (276 casos), afetando 17.027 famílias – um aumento de 763% em relação a anos anteriores, com destaque para o Maranhão.

A prática de desmatamento por queimadas – muitas vezes associada à grilagem –, somada à exploração predatória do solo e da água para a produção de commodities como grãos e carne, elevou drasticamente as emissões de dióxido de carbono no campo, colocando o Brasil na sexta posição entre os maiores poluidores do mundo, ressaltou o relatório. Entre 75% e 79% dessas emissões têm origem rural, além do impacto ainda não mensurado da contaminação de aquíferos por agrotóxicos e outros poluentes.

Os conflitos pela água também subiram (16%), e, apesar da queda nos assassinatos (de 31 para 13), os indígenas seguem como principais vítimas. As tentativas de homicídio aumentaram 43%, e o trabalho escravo, embora com redução de 40%, ainda resgatou 1.622 pessoas, incluindo crianças e adolescentes.

O surgimento do movimento “Invasão Zero”, grupo ruralista da Bahia que promove violência contra ocupações e influência nas leis para criminalizar movimentos sociais, também foi destacado como um perigoso exemplo de como os ataques vêm se organizando, incluindo a associação com facções e milícias. Vale ressaltar que os maiores responsáveis pelas violências relatadas são fazendeiros, em 47% dos casos.

A análise comparativa entre os governos Bolsonaro (2019-2023) e Lula (2023-2024) mostra que não houve redução significativa na violência agrária, exceto em assassinatos, mantendo-se a hegemonia do agronegócio, que avança sobre territórios e recursos naturais.

“Essa é a realidade expressa pelos dados, em oposição à semântica do sacrifício e da morte, naturalizada pela gramática do desenvolvimento. E, se os ‘números falam’, contam também uma outra história: a da resistência e da esperança. Como se afirmassem que, por mais que persista a lógica da violência, ela não detém a última palavra”, lembrou Afonso Maria das Chagas em sua análise.

Agência Brasil, g1, UOL, Folha, Agência Pública, Repórter Brasil, Brasil de Fato, entre outros, repercutiram o relatório sobre conflitos no campo do CPT.

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