
Uma disputa narrativa sobre quais energias podem ser consideradas limpas no processo de transição energética – e como a coerção chinesa estaria na dominância desse processo, levaram Tommy Joyce, apoiador do presidente norte-americano Donald Trump e secretário-assistente interino de Assuntos Internacionais do Departamento de Energia dos EUA a dar declarações duvidosas na cúpula sobre segurança energética organizada em Londres pela Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em Inglês).
O evento reuniu autoridades de alto nível, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e representantes de cerca de 60 países. Em dois dias, serão debatidos temas críticos como segurança energética, transição climática e o futuro dos mercados de combustíveis fósseis e energias renováveis.
Como noticiou a Folha, nesta 5a feira (24/4) Joyce chegou a classificar as políticas de redução de energias fósseis e em favor das renováveis como “nefastas e perigosas”. Sua lógica baseia-se no fato de que os minerais necessários para que as renováveis avancem estão em solo chinês – uma péssima notícia para os EUA por conta da guerra tarifária criada por Trump e que, dentre outras consequências, levou a China a suspender a exportação dos chamados minerais de terras raras para os norte-americanos.
“Quando e onde a energia é escassa ou restrita, os seres humanos sofrem. Infelizmente, o foco durante o último governo [dos EUA] esteve em políticas climáticas que levaram a essa escassez”, argumentou Joyce.
Mas a plateia e os demais participantes não demonstraram entusiasmo pela narrativa trumpista em prol dos combustíveis fósseis, pelo contrário. A ministra de Barbados, Lisa Cummins, alertou para os custos e impactos da energia fóssil, citando um gasto de US$ 1 bilhão em importações no ano passado.
Ed Miliband, secretário britânico de energia, defendeu a transição para fontes limpas como estratégia para combater mudanças climáticas e garantir segurança energética, enquanto Fatih Birol, diretor da AIE, alertou que a “fragmentação internacional” está prejudicando a cooperação necessária para resolver crises. A divergência marcou o debate, como noticiaram BBC, Bloomberg, Climate Home e POLITICO.
Enquanto isso, o governo Trump deu mais um passo rumo ao desmonte das restrições ambientais à produção de combustíveis fósseis ao confirmar na última 4a feira (23) que usará medidas emergenciais para acelerar a aprovação de projetos de combustíveis fósseis e mineração em terras públicas, reduzindo prazos de análise ambiental de anos para apenas 14 ou no máximo 28 dias.
A mudança, criticada por ambientalistas, visa agilizar a exploração de carvão, petróleo, gás e urânio, indicou o The Hill. “Estas regulamentações [ambientais] permitem que o povo americano e as pessoas de todo o planeta respirem ar puro, bebam água limpa, e ele [Trump] está disposto a sacrificar tudo isso”, declarou a atriz e ativista ambiental Jane Fonda, como noticiado pela Folha.
Além disso, o Departamento do Interior dos EUA estuda reduzir seis monumentos nacionais no Arizona, Califórnia, Novo México e Utah, enquanto avalia possibilidades de exploração mineral e petrolífera nessas áreas, noticiou o Guardian. A medida integra um plano com o objetivo declarado de “acelerar o desenvolvimento de recursos energéticos domésticos e minerais críticos”.