COP30 será “choque de realidade” sobre Amazônia, diz Thelma Krug

Líder do comitê científico da conferência destaca que as três últimas COPs, realizadas em petroestados, foram “bem complicadas”.
7 de maio de 2025
cop30 amazônia thelma krug
Divulgação/MMA

A cientista Thelma Krug, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), disse que a COP30 será um “choque de realidade” para os governos e os negociadores. Para ela, as três últimas COPs, realizadas em países autoritários e petroleiros (Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão), acabaram sendo “bem complicadas”, enquanto a COP na Amazônia será uma oportunidade para “cair a ficha” sobre a realidade dos países em desenvolvimento.

“O interessante de se ter a COP na Amazônia é o fato de que os países vão ter a oportunidade de sobrevoar as áreas extensas de floresta. Vai ser um choque de realidade, [ver] que a gente ainda tem muita floresta e precisa de muito dinheiro para mantê-la de pé”, disse à Folha.

Líder do comitê científico da COP30, Krug disse acreditar que a COP em Belém pode ser um ponto de virada para a implementação de políticas locais, nacionais e internacionais efetivas, a partir do maior financiamento para o clima. “Hoje é mais plausível financiar guerras”, observou.

Para a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Brasil deve provocar uma discussão global sobre a “transição da terra”. Em entrevista ao Valor, ela destacou que essa transição não é apenas a superação do modelo que resulta no desmatamento.

“A floresta, além de ser um bem ambiental, é um bem climático. Quanto custa combater o crime organizado na Amazônia? Precisamos discutir: é uma solução climática”, disse Teixeira. “O Brasil é o país que mais produz vida no planeta. Temos que falar de ativos ambientais, não só de passivos”, destacou.

A proposta de “transição da terra” deve incluir o debate sobre novos modelos de agricultura, da produção de defensivos agrícolas e da nova mineração. A construção do conceito daria nova posição política aos países do Sul, megadiversos, e evitaria um novo colonialismo, desta vez, debruçado sobre a Natureza. O tema, diz a ex-ministra, é aderente à proposta da presidência da COP30 que quer criar uma importante agenda de ação, com soluções a curto prazo e que façam frente à emergência climática.

A COP brasileira pode escancarar a realidade dos países em desenvolvimento e sua necessidade de financiamento climático, assim como propor novos debates e cobrar ações efetivas. Mas também cobrará do Brasil que lide com suas contradições domésticas, analisou a atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Um dos maiores desafios do país será enfrentar o dilema entre exploração de petróleo e liderança climática. Outro será conciliar interesses do agronegócio e a agenda do clima.

“Vamos conseguir realizar a COP30 liderando pelo exemplo. Para liderar pelo exemplo, teremos que enfrentar muitos dos nossos problemas e das nossas contradições, mas estar comprometidos com a transição energética”, disse Marina na abertura da 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA), citada pela agência eixos.

Como exemplos, a ministra citou o Plano de Transformação Ecológica (PTE) do Ministério da Fazenda e as metas climáticas (NDC) do Brasil. Mas Marina também destacou que as leis aprovadas no Congresso Nacional e o financiamento climático precisam estar alinhados com o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C – algo bastante incerto, pelo perfil majoritariamente antiambiental e anticlimático da Câmara e do Senado.

  • Em tempo: A produtora cultural Marcele Oliveira, de 25 anos, foi escolhida para ser a embaixadora da juventude climática na COP30. Ela concorreu com outros 23 finalistas com histórico de luta na defesa do meio ambiente em um edital de concorrência pública para o posto coordenado pela Secretaria Nacional de Juventude em parceria com a organização da COP do Brasil. A escolha foi oficializada na 4ª feira (7/5), quando o presidente Lula a recebeu. O Globo repercutiu a notícia.

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