Reunião de países na Alemanha prepara terreno para a COP30

Com atraso na entrega das novas contribuições dos países, o encontro de Bonn começa sob pressão por ambição, financiamento e coordenação para Belém.
15 de junho de 2025
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UNFCCC Flickr

Principal reunião preparatória da ONU para as COPs, reunindo negociadores de todo o mundo, a edição deste ano da Conferência de Bonn (SB62) começa nesta 2ª feira (16/6) tentando definir os trilhos técnicos e políticos da COP30. O encontro, que se estende até o dia 26, começa sob pressão por mais ambição no combate à crise climática, por mais financiamento e coordenação até a cúpula do clima de novembro.

O presidente da COP30 André Corrêa do Lago pediu aos negociadores que estarão em Bonn que avancem em “resultados concretos” quanto às questões que serão tratadas em Belém, relatou o Pará Terra Boa. Segundo ele, a presidência da conferência está trabalhando em conjunto com a presidência da COP29 e com os presidentes dos órgãos subsidiários da UNFCCC – a Convenção Clima – para assegurar que, durante a reunião, sejam tomadas decisões que serão adotadas formalmente na COP.

“A presidência brasileira precisa apresentar com clareza quais resultados considera prioritários, especialmente porque está convocando uma ação coletiva, e já vemos sociedade civil, setor privado e governos subnacionais respondendo a esse chamado”, destacou ao Projeto Colabora Cintya Feitosa, estrategista internacional do Instituto Clima e Sociedade (iCS). “Sem um ponto de chegada compartilhado, essa ação coletiva corre o risco de virar uma cacofonia, em vez de avançar de forma coordenada”, completou.

Um dos pontos essenciais de Bonn será como colocar em prática o Roteiro Baku-Belém para US$ 1,3 trilhão, que pretende destravar o financiamento, um dos principais nós da agenda climática, lembraram Mariana Paoli, líder global de advocacy na Christian Aid, e Iskander Erzini Vernoit, diretor executivo da Iniciativa IMAL para Clima e Desenvolvimento, em artigo no Climate Home.

“Existe um risco muito real de que o Roteiro não consiga enviar um sinal claro do nível de ambição necessário em termos de financiamento público por parte dos países contribuintes. Se isso acontecer, o Roteiro poderá consolidar a injustiça, aumentar o peso da dívida e atrasar ações urgentes em relação às mudanças climáticas”, pontuaram.

A SB62 também terá de lidar com o atraso das novas metas climáticas dos países. Apenas 22 nações enviaram suas NDCs atualizadas, que são devidas para a COP deste ano. E apenas uma delas – o Reino Unido – foi avaliada como compatível com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris. China, União Europeia e Índia estão entre os grandes emissores que ainda não apresentaram suas metas para 2035.

Outro ponto crucial, ignorado na Conferência da ONU sobre os Oceanos (UNOC3) concluída semana passada (leia mais aqui), é a transição energética e a eliminação dos combustíveis fósseis. Ainda que os investimentos em fontes renováveis de energia estejam crescendo, a velocidade da substituição de petróleo, gás fóssil e carvão ainda é insuficiente. E o agravamento das mudanças climáticas exige pressa.

Em sua última carta, a presidência da COP30 enfim abordou a necessidade de eliminação dos combustíveis fósseis. Contudo, Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima (OC), e Ilan Zugman, diretor para a América Latina e Caribe da 350.org, alertaram no Valor que, por enquanto, petróleo, gás e carvão não aparecem na pauta de negociação de Belém.

“Para fazer história, a COP30 deve ter um resultado formal que acelere a transição energética e a implementação do artigo 28 [do Balanço Global do Acordo de Paris, elaborado na COP28, em Dubai, em 2023]. Seja por meio de um dos trilhos formais de negociação, como o Diálogo dos Emirados Árabes Unidos, seja por uma decisão de capa, que também é negociada entre países, mas parte de uma iniciativa da presidência da conferência. A COP30 precisa enviar um sinal político inequívoco para tirar do papel a promessa de 2023 e acelerar a transição energética. O Brasil pode e deve puxar esse debate, ainda que seja uma conversa difícil”, reforçaram.

Amazônia Vox, WWF e Human Rights Watch também repercutiram a Conferência de Bonn.

  • Em tempo 1: O Brasil está levando lideranças indígenas para a Conferência de Bonn. Para se capacitar, as lideranças vêm tendo aulas sobre temas como perdas e danos, gênero, financiamento e Acordo de Paris, em projeto do Itamaraty e do Ministério dos Povos Indígenas com apoio do instituto LAClima, focado no direito climático na América Latina. A notícia é da Folha.

  • Em tempo 2: O governo federal e corretoras imobiliárias de Belém assinaram na semana passada um termo que define boas práticas para os aluguéis durante COP30, informou a Folha. O objetivo do documento, segundo a organização da conferência, é definir preços justos na oferta dos aluguéis e contratos transparentes durante o evento. O termo, porém, não estabelece um limite ou regras para os valores cobrados pelas imobiliárias, tampouco define o que seriam "preços justos".

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