Oito em cada 10 deputados defendem explorar petróleo na Amazônia

Pesquisa mostra que apenas 10% dos parlamentares são contrários à exploração em uma das regiões mais biodiversas do mundo.
4 de julho de 2025
pesquisa opinião foz amazonas
Eliseu Pereira via UmSoPlaneta

Deputados federais e senadores se autointitulam “legítimos representantes do povo”, mas mostram mais disposição à defesa de grupos econômicos do que da população. Exemplo recente disso foi a derrubada de vetos do presidente Lula na lei das eólicas offshore, algo que vai encarecer em 3,5% as contas de luz, segundo cálculos da Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE).

O mesmo vale para a opinião do “povo” que os congressistas dizem representar. Uma pesquisa da Quaest divulgada na 4ª feira (2/7) mostra que 8 em cada 10 deputados defendem a exploração de petróleo na Amazônia. Embora mencione “Amazônia”, a avaliação parece dizer respeito à Foz do Amazonas, que está no alvo dos defensores da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”. Só que metade da população é contra a atividade na Foz. 

Segundo a Quaest, 83% dos deputados são a favor da exploração de petróleo na Amazônia, 10% contrários; 7% não sabem ou não responderam. O levantamento foi realizado entre os dias 7 de maio e 30 de junho e ouviu 203 deputados – 40% da composição da Câmara.

Os resultados mostram um descolamento entre a opinião dos “representantes do povo” e a de seus “representados”: a 163ª Pesquisa CNT de Opinião, feita em fevereiro, mostra que metade da população (49,7%) é contrária à exploração de petróleo na Foz, ante 20,8% a favor (16,5% de indiferentes e 13% não souberam ou não responderam).

Voltando ao levantamento da Quaest, a pesquisa detalha os percentuais de defensores do petróleo na Amazônia quanto à relação com o governo e ao espectro político. No primeiro caso, 77% dos deputados da base do governo defendem a exploração de combustíveis fósseis na região, ante 88% de parlamentares independentes e 92% dos deputados de oposição. Quanto à ideologia, a atividade petrolífera na Amazônia é defendida por 67% dos deputados de esquerda, 91% dos deputados de direita e 93% dos de centro.

Os deputados deveriam saber, mas o Um Só Planeta lembrou que a região da Foz do Amazonas é uma das mais biodiversas do mundo. Seus ecossistemas, como manguezais e recifes de corais, são fundamentais para a captura de carbono, regulação do clima e proteção das zonas costeiras. Devido à complexidade geográfica e à fragilidade ambiental, a exploração de petróleo na área aumenta significativamente o risco de acidentes, como vazamentos de óleo, dificultando respostas rápidas e eficazes a emergências.

O estrago ao meio ambiente e ao clima que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas e em outras bacias da Margem Equatorial pode provocar, contudo, parece não importar aos “representantes do povo”. Também na 4ª feira (2/7) o Senado instalou a “Frente Parlamentar em Defesa da Exploração de Petróleo na Margem Equatorial do Brasil”. A iniciativa é do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), que presidirá a frente. O senador Lucas Barreto (PSD-AP) será vice-presidente, segundo Poder 360, Veja e Agência Senado.

Para justificar a criação da frente, o senador usou os mesmos argumentos falaciosos que Ministério de Minas e Energia (MME), Petrobras e o resto da turma pró-petróleo costuma acionar: “Se o Brasil não investir em novas descobertas significativas, o país poderá se tornar importador de petróleo já em 2034. No atual cenário de guerras e de pressão, é fundamental investir na pesquisa de novas áreas”.

  • Em tempo 1: A título de curiosidade: a pesquisa da Quaest também mostra que 70% dos deputados são contra o fim da escala 6x1, pauta que tem apoio de mais de 70% da população brasileira. E embora 88% sejam favoráveis à elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda, 46% são contrários à taxação de super-ricos, ante 42% favoráveis, e 53% são contra o projeto de lei que limita os supersalários no funcionalismo público. Maior desconexão com a realidade e os anseios do povo é impossível.

  • Em tempo 2: A sonda de perfuração NS-42 (também denominada ODN-II), afretada pela Petrobras junto à Foresea, está no litoral do Pará, próximo à Ilha de Marajó, informou a Agência Infra. A petroleira aguarda o IBAMA definir a data da Avaliação Pré-Operacional (APO), espécie de simulado de vazamento, para levar a plataforma ao bloco FZA-M-59, na costa do Amapá. A APO é uma das etapas do licenciamento do poço para explorar combustíveis fósseis que a Petrobras quer perfurar no bloco 59.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar