A pandemia avança nas periferias e ameaça causar crises humanitárias pelo mundo

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No Brasil e no mundo, o impacto da pandemia de COVID-19 está sendo muito mais forte em regiões mais pobres e vulneráveis que sofrem tradicionalmente com desigualdade de renda, falta de atenção governamental e acesso restrito a serviços de saúde e assistência social. O indicador mais evidente disso neste momento é o número de mortes. Em São Paulo, por exemplo, bairros distantes do centro expandido da cidade, que concentram favelas, cortiços e conjuntos habitacionais, são os que registram mais mortes pelo novo coronavírus, de acordo com dados da Prefeitura da cidade. Sapopemba, na zona leste, registrou 101 mortes, dez vezes mais que o verificado em bairros centrais como a Sé (oito mortes) e Barra Funda (seis).

Carolina Marins e Gabriela Sá Pessoa, do UOL, analisaram os dados de São Paulo e compararam com os resultados de uma pesquisa feita pelo economista Guilherme Lichand, da Universidade de Zurique (Suíça). Lichand analisou informações sobre sintomas de coronavírus reportados voluntariamente pela população de Santo André, no ABC Paulista. Com o avanço da pandemia, o número de casos de contágio em bairros mais ricos vem caindo; já nos bairros mais pobres, ele está subindo de forma acelerada. De acordo com a matéria, mesmo considerando a subnotificação, a maior incidência de mortes nas periferias pode estar relacionada à presença reduzida de equipamentos públicos de saúde nessas regiões.

Além da pandemia propriamente dita, as periferias também sofrem bastante com seus efeitos colaterais, especialmente aqueles relacionados ao desaquecimento da economia, que vêm causando demissões e reduzindo o orçamento das famílias mais pobres.

O Intercept cita um levantamento do King’s College de Londres e da Universidade Nacional Australiana que aponta a contração econômica causada pela COVID-19 como podendo empurrar mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo (cerca de 8% da população global) para a pobreza, revertendo em um intervalo de meses mais de 30 anos de progresso econômico. Em países mais pobres e que sofrem com conflitos armados, a situação pode evoluir para catástrofes humanitárias sem precedentes.

Além disso, o redirecionamento de recursos para o enfrentamento da pandemia pode deixar outras crises sanitárias relevantes, como a da malária, em segundo plano, o que pode causar ainda mais mortes.

 

ClimaInfo, 7 de maio de 2020.

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