ClimaInfo, 20 de novembro de 2017

20 de novembro de 2017

MINISTÉRIO DO COMÉRCIO DO REINO UNIDO FEZ LOBBY SOBRE BRASIL EM FAVOR DAS GRANDES PETROLÍFERAS BP E SHELL

O Guardian deste domingo denuncia o Reino Unido por pressionar o governo brasileiro – em nome da Premier Oil, BP e Shell – para reduzir a tributação sobre o petróleo, relaxar as exigências de conteúdo local nos projetos e equipamentos utilizados na exploração, e enfraquecer os procedimentos de licenciamento ambiental. As informações estão documentadas em correspondência oficial obtida pelo Greenpeace por meio das regras de liberdade de informação lá existentes.

O ministro do Comércio do Reino Unido, Greg Hands, esteve no Brasil em março para uma visita com “foco pesado” em hidrocarbonetos, para ajudar as empresas britânicas de energia, mineração e água a ganhar negócios no Brasil. Hands se encontrou com Paulo Pedrosa, secretário executivo do ministério de minas e energia, para levar “diretamente” as preocupações das petrolíferas. Pedrosa teria dito que estava pressionando suas contrapartes no governo brasileiro.

O Greenpeace acusou o ministro de agir como um “braço de pressão da indústria de combustíveis fósseis”. Rebecca Newsom, do Greenpeace, disse ao Guardian que a situação traz um duplo embaraço para o governo do Reino Unido representado pela pressão sobre o governo brasileiro por um enorme projeto de petróleo que, ao mesmo tempo, prejudica os esforços climáticos feitos pelo Reino Unido na COP23.

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/19/uk-trade-minister-lobbied-brazil-on-behalf-of-oil-giants

 

O balanço da COP23

 

O ABISMO ENTRE RICOS E POBRES

Conseguiu-se evitar a polarização entre países ricos e pobres, que havia sido meio que deixada de lado em Paris, em 2015, mas que pairou durante essas duas semanas em Bonn.

O Observatório do Clima ainda destaca que os EUA ficaram isolados e não conseguiram provocar retrocessos na agenda. Pouquíssimos países carvoeiros saudaram a trupe americana.

 

NÃO HOUVE AUMENTO DE AMBIÇÃO NAS METAS DE PARIS

Com a presidência da COP nas mãos, Fiji juntou outras nações climaticamente mais vulneráveis para pressionar os grandes emissores a aumentarem sua ambição e assumirem o compromisso de reduzir mais do que prometido em Paris, mas não houve progresso significativo neste debate e o assunto ficou para o ano que vem.

 

MECANISMO DE PERDAS E DANOS

Outro ponto pressionado por Fiji e amigos foi o chamado Mecanismo de Varsóvia, que trata das compensações a países e povos pobres pelos impactos da mudança do clima. O tema foi reconhecido em Doha, em 2012, como da competência da Convenção. Até hoje, só conversa. Não há regras nem obrigações e não foi criado um fundo para que os ricos paguem pelos estragos no clima que fizeram desde a revolução industrial. Tinha-se a expectativa de que, pelo menos, o mecanismo de compensação fosse acordado.

 

PROTOCOLO DE QUIOTO AINDA NÃO FOI ESTENDIDO

O Protocolo de Quioto ficou meio que no limbo depois de Paris, mas, dado que este último só entra vigor em 2020, era preciso confirmar as regras para o segundo período de compromisso de Quioto, que vai até 2020. Caso contrário, serão dois anos sem um tratado em validade. Não houve consenso em Bonn e o assunto também ficou para o ano que vem.

 

LIVRO DE REGRAS

Um dos principais objetivos da COP23 era avançar na definição do “livro de regras” para a implantação do Acordo de Paris. O texto do Acordo dá os eixos e fixa os objetivos. O livro de regras deve explicitar desde uma base comum para os inventários nacionais até o que tem que fazer parte de uma NDC (contribuição nacionalmente determinada) e, também, criar uma base comum para todas as NDCs. Até agora, cada um escreve a NDC como quer e reporta suas emissões com liberdade para dar ênfase ao que quer e tirar a ênfase do que não gosta muito. A primeira versão do livro completo e acabado tem que sair no ano que vem.

 

NO FRONT DO CARVÃO

Contra o Carvão: uma coalizão norte-americana reafirmou que o carvão não compete mais com as fontes renováveis de energia. E dezenove países declararam conjuntamente que vão se livrar dele, se bem que o carvão não é muito importante em nenhum deles. Mesmo assim, a declaração atraiu a atenção e o grupo quer se expandir e chegar à Polônia com cinquenta países.

Promovendo o Carvão: a Ucrânia e a Polônia disseram que precisam do carvão para aquecimento e eletricidade. O governo Trump bancou um evento paralelo no qual o pessoal da Peabody disse que o mundo precisa “cair na real” e assumir que vai depender dos fósseis por um bom tempo ainda. A maioria dos presentes foi para protestar contra o carvão e saiu no começo deixando o evento quase vazio. A Peabody é uma carvoeira à beira da falência que caiu nas graças de Trump.

Engolindo Carvão: Angela Merkel está tentando formar uma nova coalizão para governar que deve incluir um partido liberal pró-mercado e os verdes. Na mesa de negociação o número de térmicas a carvão a serem fechadas nos próximos tempos: os verdes querem fechar 20, os pró-mercado aceitam fechar 10.

 

EUA

Um dos temores era de que os negociadores norte-americanos atrapalhassem as negociações. Mas isso não aconteceu. Fora o evento do carvão, o pessoal foi simpático e colaborativo, sempre reafirmando que estão saindo do Acordo de Paris, mas não vão sair da Convenção do Clima. O que é uma situação um tanto esdrúxula.

 

CHINA

Para quem esperava que a China assumisse de vez a liderança nas negociações depois do anúncio de retirada feito pelos EUA, a atuação dos chineses foi um tanto frustrante. O país não assumiu o centro do palco, operou para brecar as iniciativas pró-aumento de ambição e disse que não vai implantar um sistema de precificação de suas emissões, por enquanto.

 

BRASIL

Foi muito comentada nos corredores da COP23 a renúncia fiscal de R$ 1 trilhão para a exploração do pré-sal proposta por Temer e Meirelles. Até o ministro Sarney Filho se disse surpreso e contrário à medida provisória (MP 795). Para equilibrar a balança, o ministro tentou vender a redução da taxa de desmatamento como um caso de sucesso e o pessoal graduado do ministério do meio ambiente se disse preocupado com o aumento das emissões do ministério das minas e energia. Lembrando que, alocando aos ministérios as emissões dos diferentes setores, 51% das emissões brasileiras estão sob a responsabilidade do ministério do meio ambiente, 22% estão sob o ministério da agricultura, 9% sob o ministério dos transportes, 7% sob o ministério da indústria e comércio e 6,5% sob o ministério das minas e energia.

A COP de 2019: O ministro Sarney Filho disse que o Brasil é candidato para receber a COP25, em 2019. É certo que esta acontecerá num país da América Latina e Caribe. O pessoal da Climate Action Network sugeriu que, daqui para frente, só possam hospedar as reuniões países cuja NDC seja compatível com o limite de 1,5°C. Brasil, Argentina, Chile, Peru e México estariam fora.

Que tal repetir a fórmula deste ano e colocar na presidência uma das ilhas do Caribe atingidas por furacões, mesmo que o evento aconteça num país maior. Fica a sugestão.

 

NA PRÓXIMA COP, O FUTURO DOS FÓSSEIS – O CONFRONTO FINAL

O pessoal da BBC acha que a houve um pequeno avanço em Bonn, mas que se deixou o confronto sobre o futuro dos combustíveis fósseis para o ano que vem na capital do carvão polonês.

 

Links para artigos com balanços da COP:

http://www.observatoriodoclima.eco.br/cop23-entrega-o-que-prometeu-mas-nao-o-que-precisamos/

http://m.dw.com/pt-br/conferência-do-clima-em-bonn-adia-decisões-importantes/a-41435123

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/11/1936455-cop-do-clima-termina-com-avancos-mas-deixa-grandes-decisoes-para-2018.shtml

http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-do-inesc/2017/novembro/algumas-coisas-estao-fora-da-ordem-do-tempo-e-do-espaco-na-cop-23

http://envolverde.cartacapital.com.br/carlos-rittl-o-brasil-ainda-nao-tem-plano-so-uma-meta/

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/17/planet-at-a-crossroads-climate-summit-makes-progress-but-leaves-much-to-do

http://www.climatechangenews.com/2017/11/17/china-flexes-muscle-climate-talks-make-slow-progress/

https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/660041/powering-past-coal-alliance.pdf

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/16/political-watershed-as-19-countries-pledge-to-phase-out-coal

http://eco.climatenetwork.org/cop23_cmp13_cma2-eco11-6/

http://www.climatechangenews.com/2017/11/17/fight-finance-threatens-end-climate-talks/

http://www.dw.com/en/opinion-climate-pledges-can-be-more-ambitious-on-renewable-energy/a-41415591

http://www.bbc.com/news/science-environment-42032229

 

RECAPITULANDO

O Nexo Jornal recapitula com clareza o histórico dos esforços diplomáticos para a adoção de medidas conjuntas para a redução das mudanças climáticas.

https://www.nexojornal.com.br/grafico/2017/11/17/O-histórico-dos-principais-encontros-e-acordos-climáticos-mundiais

 

POVOS INDÍGENAS GANHAM RECONHECIMENTO

Finalmente a Convenção reconhece a importância dos povos indígenas para a preservação das florestas e ecossistemas. No mundo, são 370 milhões de indígenas ou “primeiros povos” cujos territórios contêm 20% do carbono estocado em florestas. A partir de agora, com a criação da Plataforma Indígena, a Convenção tratará de ouvi-los e alocar recursos para suas atividades de proteção dessas florestas.

Em uma das manifestações, os indígenas pediram o fim da exploração de petróleo e que ele seja mantido no solo.

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/15/indigenous-groups-win-greater-climate-recognition-at-bonn-summit

 

ÁFRICA

A quarta-feira, 15, foi o Dia da África na Convenção com o slogan “Parcerias para a implementação do Acordo de Paris: a resposta da África”. A rodada colocou no centro o tema dos financiamentos, da capacitação, do desenvolvimento e da transferência de tecnologia de baixo carbono. O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) lançou o “Africa NDC Hub”, um pool de recursos para países africanos junto com o apoio de instituições locais e internacionais, públicas e privadas, com o objetivo de alcançar as metas de Paris. O terceiro link abaixo é para o flyer do Hub.

Muitas das NDCs africanas definiram metas condicionadas à disponibilidade de financiamento a baixo ou nenhum custo e o BAD pretende ser o veículo de coordenação dessa movimentação. O banco entende que, apesar de responder por apenas 4% das emissões globais, os impactos da mudança do clima vão causar, anualmente, prejuízos de bilhões de dólares. O secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou os países ricos do seu compromisso em relação ao financiamento dos países mais pobres, destacando o continente africano.

O Huffington Post, versão do Magreb, trouxe uma análise sobre o impacto da mudança do clima na agricultura africana, citando que a velocidade das mudanças nos países africanos é mais rápida do que se esperava. Posto que cerca de 65% dos africanos estão ligados à agricultura, o estrago pode ser enorme. O Le Point Afrique também traz um sumário e um mapa com os principais impactos climáticos já em curso.

A ONU Meio Ambiente (ex-PNUMA) desenvolve vários programas na região, num leque que pega mitigação de emissões, adaptação à mudança do clima e pesquisa e apoio a políticas públicas.

O artigo da Deustche Welle (o último da lista) mostra os principais impactos climáticos que já estão causando mortes e prejuízos no continente.

https://www.afdb.org/fr/news-and-events/africa-day-at-cop23-17551/

http://www.jeuneafrique.com/492551/politique/cop-23-lafrique-au-coeur-des-debats/

https://www.afdb.org/fileadmin/uploads/afdb/Documents/Generic-Documents/Africa_NDC_Hub_-__flyer-en.pdf

http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/internacional/2017/10/46/Antonio-Guterres-pede-ambicao-luta-contra-mudanca-climatica,f4788346-9e9b-4038-9614-f3920039f16a.html

http://afrique.lepoint.fr/economie/afrique-cop23-ce-que-les-pays-africains-sont-venus-defendre-17-11-2017-2173187_2258.php

http://web.unep.org/africa/regional-programmes/climate-change

https://www.afdb.org/en/topics-and-sectors/initiatives-partnerships/africa-climate-change-fund/

http://www.huffpostmaghreb.com/martin-lozniewski/changement-climatique-lagriculture-africaine-menacee-par-le-rechauffement-de-la-planete_b_17540394.html

http://www.dw.com/en/africas-fight-against-climate-change/g-41327124

 

JOVENS AFRICANOS ENFRENTAM A MUDANÇA DO CLIMA TRAZENDO O MUNDO DIGITAL PARA A AGRICULTURA

Um artigo publicado no Climate Change News fala sobre a Rede Jovem para uma Agricultura de Baixo Carbono (CSAYN é a sigla em inglês para Climate Smart Agriculture Youth Network) que está colocando jovens africanos em contato para compartilhar experiências e conhecimentos sobre uma agricultura de baixo carbono (tradução muito aproximada para Climate Smart Agriculture). No começo, a CSAYN ajudou a formar redes jovens em 28 países africanos, mas a ideia pegou e está se espalhando pelo sudeste asiático. As iniciativas vão desde a divulgação pelo celular de boletins meteorológicos feitos por quem está no campo até a ajuda em decisões sobre o que e quando plantar. A convergência de informações está ajudando na formulação de políticas públicas, por exemplo, na delicada questão da distribuição da terra, criando mecanismos de identificação daqueles que realmente querem usá-las para a agricultura.

https://csayouthnetwork.wordpress.com/

http://www.climatechangenews.com/2017/11/13/african-youth-go-digital-keep-climate-smart-farming-alive/

 

UM COMBUSTÍVEL SEMI-SÓLIDO DE RESÍDUOS DO QUÊNIA GANHA PRÊMIO INTERNACIONAL

A Climate Launchpad escolheu entre mais de mil concorrentes um combustível sólido feito de resíduos de biomassa para seu prêmio internacional. Chamado de Alkagel, ele é um gel semi-sólido, parecido com o gel de etanol que é vendido para acender churrasqueiras. Só que a versão queniana é feita a partir de cascas de manga, banana, melancia, laranja e mamão papaia, que são fermentadas e depois solidificadas misturando o acetato de cálcio de cascas de ovo. A queima do combustível produz uma chama limpa sem fumaça ou fuligem e gera metade do calor de uma quantidade equivalente de querosene. No Quênia é encontrado no comércio em geral.

http://climatelaunchpad.org/finalists/bio-alkanol-gel-fuel/

 

NASA APONTA LIGAÇÃO ENTRE DERRETIMENTO DE GELEIRAS E INUNDAÇÃO DE CIDADES

Resultados de uma modelagem feita pela NASA acabam de ser publicados na Science Advances identificando quais cidades serão mais afetadas pelo derretimento de quais geleiras. O trabalho leva o título sugestivo de “Deveria o planejamento dos litorais levar em conta onde o gelo terrestre está derretendo?” (livre adaptação de “Should costal planners have concern over where land ice is melting?”). A modelagem parte da pergunta feita por alguém em cima de uma geleira que tenta prever onde o nível do mar se elevará, quando e quanto. Os autores observaram que, muitas vezes, o perigo aumenta com a distância, ao contrário do que se intui. Um exemplo: a manta da Groenlândia tem gelo suficiente para fazer o nível do mar subir mais de seis metros. Mas as geleiras estão derretendo em ritmo diferente ao longo da costa e as que estão derretendo mais rapidamente são as que estão mais longe de Nova York, as do canto nordeste da ilha. E lá, como há perda de massa de gelo, a força de atração dessa massa sobre o mar fica minusculamente menor e, nesses locais, o nível do mar não sobe. Aplicando este tipo de raciocínio numa escala de continentes e oceanos, eles conseguiram identificar o conjunto de geleiras que, derretendo, impacta mais uma lista de 291 portos ao redor do mundo.

http://advances.sciencemag.org/content/advances/3/11/e1700537.full.pdf

http://gizmodo.uol.com.br/nasa-geleiras-derretimento-cidades/

 

Para Ver:

O BALÉ DAS ESTAÇÕES NO GLOBO TERRESTRE

A Nasa montou uma animação de dois minutos a partir de 20 anos de fotos de satélites. O resultado é ver o balé das estações no globo. O verde nos trópicos, ora mais escuro no verão, ora mais claro no inverno. O branco gelado do norte se espalhando em direção ao sul no inverno; dá para ver claramente que cada vez menos gelo remanesce no verão. Nos oceanos, a animação colore de tons de azul a quantidade de fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha. Impressiona muito as manchas roxas nos oceanos indicando ausência de vida.

https://www.theguardian.com/science/2017/nov/18/nasa-map-of-earths-seasons-over-20-years-highlights-climate-change

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