ClimaInfo, 5 de março  de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O NOVO NORMAL DO ÁRTICO….E A AMAZÔNIA

Na estação em que o sol não dá as caras – e que, portanto, são esperadas temperaturas negativas – o Ártico bateu um recorde colossal: 61 horas seguidas com os termômetros acima de zero. Para ter ideia, o recorde anterior era de apenas 16 horas.  Isso se traduziu em  temperaturas 10°C-20°C acima do que seria esperado para a estação – e ondas congelantes varrendo a Europa e outras regiões do Hemisfério Norte.  Em sua coluna deste domingo, o jornalista Marcelo Leite didaticamente explica porque essa mudança no Ártico afeta mais que os famintos ursos brancos e destaca o que vários países – menos o Brasil – estão fazendo, ainda que em menor intensidade do que seria necessário, para combater as alterações do clima.  Por aqui, nossa maior fonte de emissões, o desmatamento, não dá trégua e ainda recebeu chancela do Supremo Tribunal Federal, que deu seu aval à anistia para quem devastou floresta ilegalmente.

Outra consequência das mudanças climáticas no Ártico: novo estudo mostra que por lá a primavera já começa 16 dias antes do equinócio.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/03/aquecimento-global-poe-o-artico-em-polvorosa.shtml

https://www.theguardian.com/environment/2018/mar/02/arctic-spring-is-starting-16-days-earlier-than-a-decade-ago-study-shows

 

CARLOS NOBRE VOLTA A ALERTAR SOBRE RISCOS À AMAZÔNIA
“O principal problema [para a ausência de um modelo de desenvolvimento econômico para a Amazônia] é a falta de imaginação que domina o modo latino-americano de desenvolvimento. Nunca pensamos um modelo de crescimento autenticamente tropical. Não enxergávamos valor na floresta, por ignorância e prepotência. Só víamos valor em substituí-la e produzir proteína vegetal e animal nos moldes importados de outras regiões. Isso é o modelo dominante desde 1500 e que perdura até hoje, quando ainda vemos um forte vetor de expansão da fronteira agropecuária na Amazônia e no cerrado. Se nada for feito imediatamente, corremos o risco de perder um dos maiores tesouros biológicos do planeta a troco de muito pouco.”  Isto é apenas uma amostra do porquê você deve ler a entrevista que o climatologista Carlos Nobre concedeu à revista Isto É sobre os riscos da Amazônia vir a se transformar em savana por causa do desmatamento.

https://istoe.com.br/amazonia-nao-esta-longe-de-virar-savana/

 

OCEANOS NA MIRA

Em sucinto, porém abrangente, artigo na Folha deste domingo, Fábio Feldman traça um panorama da preservação dos oceanos. O texto vem defender a criação da Área de Proteção Ambiental e Monumento Natural Trindade e Martim Vaz, e da Área de Proteção Ambiental e Refúgio da Vida Silvestre São Pedro e São Paulo, mas levanta uma lebre muito maior. Esse era um tema que até recentemente quase não estava na mira da ONU, mas que vem recebendo crescente atenção. Você deve se lembrar que o país que presidiu a última COP climática, Fiji, tinha a preservação dos oceanos como uma de suas bandeiras.  Há alguns dias, a Nature publicou uma análise sobre dois possíveis cenários para cumprir o Acordo de Paris para mostrar o quanto os oceanos devem subir mesmo assim: uma diferença de 20-30 cm entre um e outro, sendo que ambos ficam acima de um metro.

Nos links abaixo você também encontra mais informações sobre a relação entre oceanos e clima, bem como uma coletânea de matérias sobre a poluição do mar.  
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/03/fabio-feldmann-protecao-da-biodiversidade-marinha.shtml
https://www.nature.com/articles/s41467-018-02985-8

https://www.theguardian.com/environment/climate-consensus-97-per-cent/2018/mar/01/decisions-today-will-decide-antarctic-ice-sheet-loss-and-sea-level-rise

https://marsemfim.com.br/oceanos/poluicao/

http://labmon.io.usp.br/images/noticias/O_papel_dos_oceanos_nas_mcg_edmo_campos.pdf


ECONOMIZOU ÁGUA? PAGUE MAIS!

Eis um belo exemplo de como a gestão de água é pensada na maior cidade da América do Sul: a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo planeja autorizar aumento da tarifa da Sabesp caso ocorra uma queda significativa de consumo e, portanto, de receita. Isso talvez não fizesse sentido nem para uma empresa privada, que poderia optar por uma liquidação com corte nos preços para atrair clientes.  No caso de um bem cada vez mais escasso no mundo e na paulicéia desvairada, essa ideia soa como total insensatez.  Como a última crise hídrica já mostrou, queda no consumo deve ser premiada com desconto.  O aumento, por sua vez, deveria ser reservado a quem gasta demais – ou desperdiça.  As reportagens da época do racionamento trouxeram inúmeros exemplos disso. #ficadica  

Aliás, falando em racionamento: a ideia do reajuste visa justamente proteger a empresa de prejuízos em uma nova crise hídrica – por isso, o mecanismo seria usado tanto em casos de aumento como de queda no consumo.
Fica cada vez mais difícil para o governo paulista negar que temos uma nova crise à vista.
http://www.valor.com.br/empresas/5360183/queda-significativa-do-consumo-pode-gerar-reajuste-em-tarifa-da-sabesp

 

AÇÕES PARA UM AGRO SUSTENTÁVEL

Em artigo tecendo loas à aprovação do novo Código Florestal pelo STF, Marcus Jank propõe ações para um agro sustentável (ué, já não era, Marcus?). Segundo ele, a combinação do uso de tecnologia na produção com a correta implementação do Código Florestal que representarão o passaporte da sustentabilidade das commodities brasileiras.  Resta saber o que ele entende por ‘implantar corretamente’’, já que, sendo lei, bastaria implantar… Ao final, ele ainda arrisca sugerir uma agenda para ‘uma paisagem rural verdadeiramente sustentável’: a) criar mecanismos de financiamento, compensação e pagamentos por serviços ambientais; b) difundir tecnologia com estímulos concretos a práticas de agropecuária de baixo carbono, com foco na restauração de pastagens e na intensificação da pecuária; c) destinar terras devolutas e resolver o gigantesco gargalo fundiário.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-jank/2018/03/o-codigo-florestal-e-a-eliminacao-do-desmatamento-ilegal.shtml

 

ADEUS AO CARRO A DIESEL

Os carros a diesel lutam contra a queda nas vendas e o ascendente custo do cumprimento das cada vez mais rígidas legislações, além, é claro, da crescente competitividade do mercado.  Resultado: a mais recente integrante do time das fabricantes que decidiram dar adeus ao diesel é a Fiat Chrysler, fabricante das marcas Jeep, Dodge, Ram, Chrysler, Maserati, Alfa Romeo e Fiat.  Ela pretende interromper a produção de veículos de passageiros a diesel em 2022. A Toyota e a Porsche já haviam feito a mesma opção. No caso da Volvo, a opção foi mais radical: apenas veículos elétricos ou híbridos a partir do ano que vem.

No final de fevereiro, o Tribunal Administrativo Federal da Alemanha, em Leipzig, decidiu que Stuttgart e Dusseldorf tinham o direito de impor proibições que impedem que alguns carros diesel trafeguem pelo centro das cidades. Não custa lembrar que Stuttgart é o lar do grupo Daimler, da Mercedes-Benz, e Dusseldorf é o lar da Porsche.  Ainda no mês passado, Roma anunciou que banirá carros a diesel de seu centro em 2024, acompanhando decisão já tomada por Paris. No caso de Copenhague, a data limite é 2019; em Seul, 2020.

https://www.ft.com/content/25fa04ac-1a08-11e8-aaca-4574d7dabfb6
https://www.koreatimes.co.kr/www/tech/2018/03/419_245071.html

 

TRUMP VOLTA A CULPAR CHINA E ÍNDIA PELA SAÍDA DOS EUA DO ACORDO DE PARIS

Foi Trump quem decidiu abandonar o Acordo de Paris, não é mesmo? Mas ele voltou a culpar a Índia e a China pela decisão, mais uma vez dizendo que o Acordo é injusto, pois os EUA pagariam e outros se beneficiariam.

Limpando a confusão imposta pelo dialeto privado de Trump, dá para entender um tanto da cabecinha do sujeito: como num cartoon, ele se vê sentado sobre o topo da maior reserva de energia (fóssil, claro) do mundo; lá do alto, o Acordo de Paris lhe parece um instrumento que a China pode usar para impedir que suas ricas reservas venham a ser utilizadas e, assim, conseguir competir com os EUA. Tump reclama que Paris obriga os EUA a agirem já, enquanto a China só precisaria agir em 2030 (sic). Para ele, os EUA teriam que pagar, também, porque a Índia se vê como um país “em crescimento”, como ele diz, e reclama que os EUA também precisam crescer.

No dialeto de Trump: “Nós não conseguimos construir. Nós não poderíamos cultivar. Se você tivesse uma poça em sua terra, eles chamam isso de lago para fins ambientais. Quer dizer, é uma loucura. É uma loucura”.

Bem, pedimos desculpas por descrevermos argumentos tão rasos.

https://www.moneycontrol.com/news/world/trump-blames-india-china-for-his-decision-to-withdraw-from-paris-climate-deal-2515537.html

 

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