ClimaInfo, 8 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

NOVO FUNDO APOIARÁ EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ILUMINAÇÃO PÚBLICA

O Banco Mundial, junto com a Caixa Econômica, lançaram no mês passado um programa de apoio a cidades que queiram ser energeticamente mais eficientes. O FinBrazeec, Financial Instruments for Brazil Energy Efficient Cities (Instrumentos Financeiros para Cidades do Brasil com Eficiência Energética) financiará a iluminação pública de baixo consumo e apoiará, também, indústrias em projetos de eficiência energética. Inicialmente, o Banco Mundial emprestará US$ 200 milhões que serão complementados com recursos do Fundo Verde do Clima (GCF) e do Fundo de de Tecnologia Limpa (CTF). O programa quer operar US$ 1,3 bilhão vindos do próprio Banco Mundial e dos Fundos, que deverão ser complementados com captações no próprio mercado. A documentação do programa contém uma análise de salvaguardas socioambientais e uma de gênero, com um plano de ação associado. Ao final, o programa espera evitar a emissão de mais de 17 milhões de toneladas de carbono.

https://nacoesunidas.org/banco-mundial-e-caixa-firmam-parceria-para-melhorar-eficiencia-energetica-do-brasil/

https://www.greenclimate.fund/-/financial-instruments-for-brazil-energy-efficient-cities-finbrazeec-

http://projects.worldbank.org/P162455?lang=pt

 

TCU QUER CONHECER O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL E RECOMENDAR MELHORIAS

O Tribunal de Contas da União iniciou uma auditoria no licenciamento ambiental para entender processos e entraves, estimar os riscos associados e identificar oportunidades de melhoria. Apesar do grosso do trabalho ser realizado no Ibama, serão envolvidos a Funai, o Iphan e a Fundação Palmares. O presidente do TCU, Raimundo Correa, afirmou que “as ineficiências nesses processos podem atrasar ou elevar custos de grandes obras, e que a aprovação de projetos incompletos ou mal
elaborados impedem a adoção de medidas para evitar impactos negativos ao meio ambiente e às comunidades locais”.

Esperemos que o TCU também audite a qualidade da documentação apresentada junto com os pedidos de licenciamento.

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53070696/tcu-anuncia-auditoria-no-licenciamento-ambiental

 

MEIAS VERDADES DO SETOR ELÉTRICO SOB ATAQUE

O Ilumina, um think tank focado no setor elétrico, esculhambou um artigo da Folha de S. Paulo que falava do impacto negativo da geração distribuída sobre a conta de luz de quem não tem painéis fotovoltaicos no teto. O Ilumina pega um conjunto de curvas de carga – consumo total ao longo das 24 horas do dia – para mostrar que a fotovoltaica gera energia no horário de máximo de consumo, o que faria com que o restante do sistema de geração pudesse gerar menos, seja armazenando água em represas, seja não queimando gás em térmicas. E essa economia é distribuída a todos os consumidores. O Ilumina não incluiu os contratos take-or-pay das térmicas e também não comentou o nó chamado do GSF que faz com que, no limite, o consumidor pague por uma energia que não é gerada. O Ilumina aproveita a oportunidade para criticar a governança do setor composta por quatro braços: a EPE responsável pelo planejamento, a ANEEL que cuida da regulação, o ONS que opera o sistema e a CCEE que cuida dos mercados. Diz o artigo que “são organizações de grande porte que enxergam o problema de modo fragmentado. Chega a ser ridículo que um sistema que já tem tantas tecnocracias não consiga definir uma responsabilidade tão essencial para qualquer uma delas”. O artigo da Folha pode ser lido no 2o link abaixo e foi aqui comentado na 2a feira.

http://www.ilumina.org.br/producao-de-energia-solar-em-casa-traz-polemica-para-o-pais-folha-de-sp/

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/producao-de-energia-solar-em-casa-traz-polemica-para-o-pais.shtml

 

ALGUNS COLOMBIANOS CUIDAM DA FLORESTA, OUTROS NÃO

Uma comunidade de quilombolas colombianos está tocando um projeto REDD (Redução das emissões de gases de efeito estufa provenientes de desmatamento e degradação florestal) desde de 2010, recebendo pelos créditos de carbono vendidos. O projeto foi estimulado pela empresa Anthrotect e conta com o apoio de técnicos do Jardim Botânico de Medellín, que treinaram os quilombolas a identificar e reconhecer as espécies florestais. Os recursos obtidos com a venda dos primeiros 100 mil créditos foi usado para “fortalecer a governança que temos sobre o território”, segundo Aureliano Cordoba,
uma das lideranças da comunidade.

Em outra direção, o processo de paz na Colômbia está por trás do aumento do desmatamento no país. Regiões que antes eram controladas pelas guerrilhas agora estão se abrindo para a atividade econômica. Numa situação análoga à encontrada por aqui, o desmatamento acontece em terras públicas onde a presença do Estado é inexistente ou conivente. Os vetores, lá como cá, são a extração ilegal de madeira, a grilagem, a mineração ilegal e a pecuária. Acrescida da plantação de coca.

Daniela Chiaretti visitou a Colômbia e escreveu, no Valor de ontem, um artigo a respeito da comunidade e outro sobre o efeito da paz sobre o desmatamento.

https://www.valor.com.br/internacional/5716761/comunidade-cuida-de-floresta-e-vende-credito-de-carbono

https://www.valor.com.br/internacional/5716759/acordo-de-paz-eleva-desmate-na-colombia

 

A EXPANSÃO DAS EÓLICAS NA AMÉRICA LATINA

Começou ontem a Brazil Wind Power, congresso e feira de negócios do mundo eólico. Ao mesmo tempo, a Recharge publicou uma análise da evolução do setor na América Latina com uma lupa especial sobre o Brasil. Há dez anos, a capacidade instalada era praticamente nenhuma e, hoje, temos 14 GW instalados. Para os autores do relatório, o desafio agora é continuar a crescer mantendo as regras de conteúdo local. O estudo também analisa a Argentina, país que há apenas dois anos começou a instalar aerogeradores e já tem 2,5 GW instalados e tomando proveito das ventanias patagônicas. Lá, o desafio está na rede de transmissão limitada e antiga. Vale a leitura para os não-iniciados nos ventos.

http://info.rechargenews.com/brazil-2018-supplement-lp

 

A EXPANSÃO DAS HIDRELÉTRICAS NO MUNDO

O rompimento da barragem no Laos atraiu a atenção do mundo para a expansão das hidrelétricas na região. Mas também levantou perguntas sobre os novos projetos em todo o mundo. Entre projetadas ou em construção, existem hoje mais de 3.500 hidrelétricas a caminho, de acordo com um banco de dados da universidade alemã de Tubingen. A responsável pelas informações, Christiane Zarfl, pensa que este número pode dobrar até 2030. O Brasil é o país com mais hidrelétricas a caminho, embora a soma de suas capacidades seja menor do que a das em construção na China. Os dados ainda mostram que as bacias hidrográficas com mais usinas são a do Prata (cobrindo partes do sul do Brasil, norte da Argentina, sudeste da Bolívia, Paraguai e um bom pedaço do Uruguai), a do Ganges-Bramaputra (basicamente na Índia, mas se estendendo a China, Nepal, Bangladesh e Butão) e do Amazonas (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e as Guianas). A matéria da BBC destaca as tensões às quais são submetidas as populações atingidas por essas barragens, com direito a foto e texto sobre Belo Monte.

O que Belo Monte e a tragédia no Laos indicam é que um mapa numa sala de reunião e um monte de planilhas ficam há anos-luz das pessoas que vivem no entorno dos projetos e, potencialmente, levam a contas que nenhum cartão de crédito cobriria.

https://www.bbc.co.uk/news/world-45019893

 

CRISE DO AGRONEGÓCIO EUROPEU CAUSADA PELA DEVASTADORA ONDA DE CALOR DEVE SERVIR DE EXEMPLO AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A onda de calor que assola a Europa provoca perdas agrícolas em vários países. No Reino Unido, a perda na produção de cenouras e cebolas pode chegar a 40%. A queda na produção alemã de batatas pode chegar a 25% e a perda total do agronegócio daquele país pode chegar a US$ 1 bilhão. Na Holanda, 60% da produção de milho foi gravemente afetada. Na Dinamarca, entre 40% e 50% da colheita deve ser prejudicada, e as perdas podem chegar a US$ 944 milhões. Na Suécia, o governo já reservou mais de 120 milhões de euros para resgatar fazendeiros e 35% da produção de cereais foi perdida. O produto mais afetado parece ser o trigo. Na Rússia, país que lidera a produção e as exportações mundiais do cereal, a queda prevista na produção é de 20%, na França, de 5% e, na Alemanha, de 25%.

Há décadas, o IPCC e a FAO-ONU alertam para as consequências dos eventos climáticos extremos associados à mudança climática, que podem causar reduções súbitas na produtividade agrícola e levar a aumentos rápidos de preços. Esperamos que os problemas agora enfrentados pelo agronegócio europeu despertem o agronegócio brasileiro, que este comece a levar a sério as previsões da ciência climática, passando a ser um aliado da conservação florestal e do investimento para a redução das suas emissões de gases de efeito estufa.

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,altas-temperaturas-na-europa-devem-levar-a-perdas-economicas-no-setor-agricola,70002433327

https://www.valor.com.br/agro/5716635/onda-de-calor-maltrata-o-campo-europeu

http://www.fao.org/publications/sofa/2016/en/

 

O PLANETA SAUNA

O clima está mudando na direção do que uma pesquisa recente chama de uma “Sauna Planetária” (nossa tradução livre de Hothouse Earth). A temperatura média global será entre 4oC e 5oC maior; no Ártico chegará a subir 10oC. Com isso, muito gelo continental derreterá se juntando ao aumento de volume das águas aquecidas para elevar o nível do mar entre 10 e 60 metros. Parte importante dos continentes não será mais habitável. O trabalho ainda aponta que, mesmo atingindo a principal meta do Acordo de Paris, a que quer manter o aquecimento global abaixo dos 2oC, isto pode não ser o suficiente para frear o processo de “saunalização” da Terra. O trabalho foi destaque na mídia por ter acoplado dez dos mais importantes processos de feedback de elevação da temperatura ao mesmo tempo. Dentre os dez estão a liberação de metano do permafrost ártico, o derretimento de gelo da Groenlândia e da Antártida e a redução da remoção de carbono pelas florestas tropicais, que morrem por conta de secas mais prolongadas. O trabalho aponta para um limiar que, uma vez transposto, levará a humanidade a perder o (pouco) controle que tem, e fará o clima mudar para o novo patamar “planeta sauna”.

O trabalho está sendo criticado no meio científico por apresentar um cenário demasiado extremo. O que não quer dizer que este seja impossível.

http://www.pnas.org/content/early/2018/07/31/1810141115

https://motherboard.vice.com/en_us/article/8xbdnk/planet-at-risk-of-heading-towards-hothouse-earth

https://www.pik-potsdam.de/news/press-releases/planet-at-risk-of-heading-towards-irreversible-201chothouse-earth201d-state

https://www.theguardian.com/environment/2018/aug/06/domino-effect-of-climate-events-could-push-earth-into-a-hothouse-state

 

ONDAS DE CALOR IMPACTAM MAIS AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO QUE ADULTOS

Um mundo com eventos extremos mais frequentes e mais fortes é um mundo mais ameaçador para crianças e adolescentes do que para adultos. As emergências aumentam uma ampla gama de exposições ambientais que afetam pessoas, direta e indiretamente. Como crianças e adolescentes diferem dos adultos no que tange a aspectos anatômicos, cognitivos, imunológicos e psicológicos, elas se tornam mais vulneráveis às exposições adversas. Esse é o principal resultado de uma trabalho, que acaba de ser publicado no número especial da PLOS Medicine, sobre os impactos da mudança do clima à saúde humana. Por exemplo, a razão superfície-volume do corpo de uma criança é menor do que a de um adulto, o que a torna mais vulnerável à desidratação. Elas também são mais suscetíveis a doenças respiratórias, renais e ao desequilíbrio eletrolítico durante ondas de calor. Os autores terminam com uma lista de recomendações no sentido de reforçar a troca de conhecimentos e experiências, tanto em relação a medidas de prevenção como de atendimento especialmente dirigidas aos mais jovens. E enfatizam a necessidade de que os fundos de assistência aos países mais vulneráveis às mudanças do clima desenvolvam e apoiem respostas específicas dirigidas aos pequenos.

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/08/180806151856.htm

http://collections.plos.org/climate-change-and-health

 

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