ClimaInfo, 9 de outubro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

RELATÓRIO 1,5oC: OS 37 PRINCIPAIS PONTOS

Para quem quer entender melhor os principais pontos do Relatório 1,5oC do IPCC, o pessoal do Climate Change News alinhavou os 37 principais pontos do documento, que não é o relatório completo mas sim o Sumário para Formuladores de Políticas (summary for policymakers). Para ajudar, eles agruparam os pontos em quatro grupos: entender o que significa um aquecimento de 1,5oC, os impactos e ameaças, as rotas que podem limitar o aquecimento e a necessidade de acelerar as mudanças. Leitura recomendada.

http://www.climatechangenews.com/2018/10/08/37-things-need-know-1-5c-global-warming/

 

RELATÓRIO 1,5oC: POR QUE AUMENTOU O ORÇAMENTO DE CARBONO?

Um dos pontos do Relatório 1,5oC, que já havia chamado a atenção nas versões que vazaram ao longo do ano, diz respeito ao orçamento de carbono – o quanto de gases de efeito estufa se poderia emitir e ainda assim limitar o aquecimento a 1,5oC. O último relatório de avaliação do IPCC tinha estimado que a humanidade só teria mais três anos para chegar ao pico das emissões e, a partir de então, tratar de emitir cada vez menos e rapidamente. O relatório que acaba de sair esticou o prazo para 10 anos. Zeke Hausfather explica, no Carbon Brief, como esta conta é feita e o tamanho das incertezas e indefinições que ficam escondidas atrás de números redondos e midiáticos como os tais 10 anos ou que o orçamento para haver 66% de chance de limitar o aquecimento em 1,5oC é de 420 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Entre as incertezas e indefinições, Hausfather inclui uma definição cientificamente exata do quer dizer “1,5oC” e quais são precisamente os tais níveis pré-industriais. Também falta esclarecer se os efeitos dos outros gases de efeito estufa estão contabilizados no orçamento e se ele abarca mudanças como o derretimento do permafrost, que libera mais dióxido de carbono e metano. Apesar destas limitações, Hausfather traz as palavras de Oliver Geden, um dos autores-líderes do próximo relatório do IPCC, advertindo que “não se deve esperar que os formuladores de políticas aproveitem esse repentino aumento do orçamento de carbono para intensificar os esforços de mitigação só porque atingir a meta de 1,5oC parece um pouco menos irreal. Ao contrário, este aumento reforça a crença de longa data de que sempre continuarão faltando cinco minutos para a meia-noite, mesmo sabendo que as emissões globais sigam aumentando”.

https://www.carbonbrief.org/analysis-why-the-ipcc-1-5c-report-expanded-the-carbon-budget

 

RELATÓRIO 1,5oC: REPERCUSSÕES NA MÍDIA NACIONAL

Mesmo no dia depois do 1º turno das eleições gerais, a mídia deu algum destaque para o Relatório do IPCC divulgado no domingo à noite. Em especial, as matérias enfatizaram a responsabilidade que os países têm para virar completamente o transatlântico da economia mundial rumo a um porto de baixo carbono, sob o risco de verem seus andares mais baixos submersos pela elevação do nível do mar. A matéria d’O Globo está especialmente caprichada e traz infográficos para ilustrar a diferença dos impactos de um aquecimento limitado a 1,5oC e de outro limitado a 2oC ou mais.

O jornalista Marcelo Leite foi um dos poucos no mundo a dizer em alto bom tom o que o resto do mundo está evitando encarar: “Chegou a hora de pôr a conversa mole de lado e encarar a realidade: não há chance de o clima melhorar tão cedo”. Mas Marcelo diz que isto “não é motivo para se abater, cruzar os braços e deixar de fazer o que for possível para minimizar os danos: 4°C será muito pior que 2°C, assim como oito anos de um governo desastroso sempre serão piores que quatro”.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/10/chega-de-ilusao-clima-so-vai-piorar.shtml

https://www.valor.com.br/internacional/5910491/aquecimento-global-esta-acima-da-meta-diz-ipcc

https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/analise-relatorio-do-ipcc-forca-aquecimento-global-sobre-agenda-dos-candidatos-a-presidente/

https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/meio-ambiente/onu-da-ultimo-alerta-para-evitar-catastrofe-climatica-23139274

 

RELATÓRIO 1,5oC: REPERCUSSÕES NA MÍDIA INTERNACIONAL

Como esperado, a mídia internacional também repercutiu o relatório. Vale destacar o artigo escrito por Monica Araya, diretora do Nivela, e

Carlos Manuel Rodriguez, Ministro do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica. O título – “A mais recente ciência climática deve nos mobilizar e não nos paralisar” – já diz muito sobre a postura adotada pelo governo costarriquenho em relação ao clima. Eles retiraram subsídios à criação de gado e, assim, tiraram a pressão sobre a floresta e estancaram o desmatamento. O país aproveitou a oportunidade oferecida pela paisagem e se tornou o líder mundial em ecoturismo. Os costarriquenhos também adotaram como meta a descarbonização de sua economia, tirando a competitividade dos combustíveis fósseis e incentivando os biocombustíveis.

John Kerry, o Secretário de Estado de Obama, teve um papel importante nas negociações que culminaram no Acordo de Paris em 2015. Falando sobre o relatório, cometeu uma frase simples e forte “a mudança climática é um daqueles desafios geracionais que não pode ser resolvido sem a diplomacia – sem a cooperação internacional. É preciso que (este) seja um momento que impulsione a ação para um foco global renovado”.

Georges Monbiot, um dos grandes jornalistas climáticos globais, também comentou o relatório. Vale destacar que Monbiot, há anos, pleiteia uma mudança, no fundo, de atitude: “chamar isso de ‘mudança do clima’ é como chamar uma invasão estrangeira de ‘convidados inesperados’”. Para Monbiot, o termo certo deveria ser colapso climático (climatic breakdown). O novo relatório do IPCC, na sua visão, só aumenta o tamanho deste colapso.

https://www.project-syndicate.org/commentary/ipcc-report-dire-new-climate-change-conclusions-by-monica-araya-and-carlos-manuel-rodriguez-1-2018-10

https://www.wsj.com/articles/u-n-panel-warns-drastic-action-needed-to-stave-off-climate-change-1538960400

https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/sep/26/economic-growth-fossil-fuels-habit-oil-industry

https://www.theguardian.com/environment/2018/oct/08/we-must-reduce-greenhouse-gas-emissions-to-net-zero-or-face-more-floods

 

COMO PODE FALTAR ÁGUA SE NOSSAS RESERVAS SÃO DAS MAIORES DO MUNDO?

O Brasil tem a maior reserva mundial de água doce nos grandes aquíferos e nos grandes rios que cruzam quase todo o território nacional. E, apesar, disso, pipocam crises hídricas em lugares até há pouco impensáveis. Rachel Biderman, do WRI, e André Ferretti, da Fundação Boticário e do Observatório do Clima, escreveram um artigo sobre os governos enfrentarem a falta d’água com racionamentos e obras “cinzas” de transposições e canais. Um receituário ultrapassado em tempos de mudança climática, que só vai agudizar as crises. O artigo propõe mudar o padrão e lembra que “as florestas e a vegetação nativa ajudam a reabastecer lençóis freáticos, controlam a erosão do solo, evitam enchentes e garantem mais qualidade à água que abastece nossas cidades. Trata-se da ‘infraestrutura’ que a natureza nos oferece e está presente nas margens dos rios e reservatórios, e localizada em pontos específicos de bacias hidrográficas”. Olhando para a região de um sistema como o Cantareira, que abastece boa parte da região metropolitana de São Paulo, um trabalho recente coordenado pelo WRI mostrou que restaurar 4 mil hectares com mata nativa traria um benefício de quase R$ 70 milhões na forma de água limpa, que dispensaria boa parte da energia elétrica e das altas dosagens de substâncias químicas usadas para tratá-la. Os autores recomendam “preservar e resgatar áreas verdes, [o que] além de minimizar os efeitos das alterações climáticas e proporcionar maior resiliência às comunidades diante dessas mudanças, permite que a água da chuva penetre e seja gradualmente armazenada no solo, garantindo a recarga do lençol freático e a maior disponibilidade de água com qualidade. Encontrar soluções e adotar políticas eficientes nessa direção são necessidades imediatas.”

https://www.valor.com.br/opiniao/5910235/crise-hidrica-no-pais-com-maior-reserva-de-agua-doce-do-mundo

 

ONS PREVÊ MAIS CHUVAS E DESLIGAMENTO DE TÉRMICAS

A meteorologia do Operador Nacional do Sistema elétrico avisa que, nos próximos dois meses, deve chover mais que o habitual e, portanto, é possível o desligamento das térmicas fósseis mais caras. Depois de meses semeando secas, acionando bandeiras vermelhas e elevando tarifas, o pessoal descobriu que, na verdade, está tudo bem. É possível que a bandeira volte a ser verde em novembro. Mas o gás, o óleo e o carvão queimados ao longo do ano farão as contas de luz subirem nos próximos reajustes. A mudança de cenário não impede que o governo em final de mandato siga buscando contratar energia de térmicas fósseis que não estão contratadas por conta de falta de fornecimento de gás pela Petrobras. Não seria o caso de fazer com estas térmicas o mesmo que vem fazendo com outras decisões complicadas? Que tal deixar para o próximo governo decidir?

https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2016/08/geral/518008-ons-preve-chuvas-acima-da-media-historica-no-sul-e-sudeste-em-setembro.html

https://extra.globo.com/noticias/economia/termicas-mais-caras-devem-seguir-desligadas-ate-chuvas-em-novembro-preve-ons-23131430.html

 

ENERGIA EÓLICA: O QUE FICOU PARA O NOVO CONGRESSO RESOLVER

Por falar em novo governo, o bastante modificado congresso nacional que toma posse no começo do ano terá pela frente que analisar uma longa lista de peças legislativas que afetam diretamente a geração eólica. Um levantamento feito recentemente encontrou 25 propostas legislativas em tramitação, 13 na Câmara dos Deputados e 12 no Senado Federal. A mais famosa é a emenda constitucional que declara o sol e o vento como patrimônio da União e, portanto, passíveis de cobrança de royalties, como se fossem petróleo e gás. Outras duas propostas de emendas constitucionais querem transferir a cobrança do ICMS para o estado onde a energia foi produzida. Não é uma mexida trivial porque hoje se cobra o ICMS no estado onde a energia é consumida. Como o setor cresceu, passou a movimentar recursos que atraem o interesse de todo governante e congressista. Boa parte das outras 22 peças propõe incentivos, isenções e subsídios diretos para a geração limpa.

Em tempo: Heráclito Fortes, autor do projeto que institui royalties sobre sol e vento não foi reeleito.

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/anexos/563833_energia_eolica.pdf

 

RELATÓRIO DE BIOENERGIA DA IEA MOSTRA QUE AS EMISSÕES FÓSSEIS CONTINUAM AUMENTANDO

A Agência Internacional de Energia (IEA) soltou seu relatório anual sobre bioenergia, campo que congrega os biocombustíveis e a eletricidade gerada a partir da biomassa. O Guardian destacou que, mais que a evolução da bioenergia, o relatório constata que as emissões globais continuaram a aumentar pelo segundo ano consecutivo. O relatório não deu os números por trás desta constatação, mesmo porque eles são o objeto de outro relatório que a IEA publicará em março do próximo ano. Fatih Birol, diretor executivo da Agência, disse que o crescimento das fontes renováveis precisa se alinhar com o fechamento das plantas a carvão. Para ele, as renováveis estão sem dúvida crescendo, mas a economia também anda puxando a demanda por fósseis: “mais eficiência energética e renováveis não são o suficiente para reverter essa tendência”.

O sumário executivo do relatório pode ser baixado no primeiro link. O sumário tem uma mensagem bem mais otimista do que a da matéria do Guardian.

https://www.iea.org/renewables2018/

https://www.theguardian.com/environment/2018/oct/08/energy-sector-carbon-emissions-grow-second-year-climate-change-coal

https://www.carbonbrief.org/iea-bioenergy-lead-growth-renewables-over-next-five-years

 

NOBEL DE ECONOMIA FOI PARA OS ECONOMISTAS QUE ESTUDARAM A MUDANÇA CLIMÁTICA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

Paul Romer e William Nordhaus ganharam o Nobel de Economia deste ano pelas pesquisas feitas para responder o que a revista Economist resumiu como “porque as economias crescem e porque esse crescimento pode vir a exceder a capacidade do mundo natural de sustentá-lo”. Nordhaus em especial, deu uma contribuição decisiva para integrar impactos ambientais nos modelos macroeconômicos. Nos seus modelos, ele encontrou como incluir o aumento da temperatura decorrente do aumento da concentração de CO2 na atmosfera que, por sua vez, vem da queima de fósseis nas atividades econômicas. E, em seguida, modelou como esse aumento de temperatura impacta as atividades econômicas. Esses Modelos de Avaliação Integrada (Integrated Assessments Models – IAMs) são largamente usados nos estudos de cenários para a economia mundial em função de ações e inações de governos e sociedades. Nordhaus foi o primeiro a defender os 2oC como um limite relativamente seguro para o aumento do aquecimento global.

https://www.valor.com.br/internacional/5910781/especialistas-em-clima-e-inovacao-tecnologica-vencem-nobel-de-economia

https://www.economist.com/finance-and-economics/2018/10/08/the-nobel-prize-for-economics-is-awarded-for-work-on-the-climate-and-economic-growth

 

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