ClimaInfo , 27 de novembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

80 mil km de estradas irregulares na Amazônia facilitam o desmatamento

Um levantamento feito pelo Imazon das estradas não oficiais que cortam a região Amazônica encontrou quase 80 mil quilômetros de estradas irregulares no interior ou a uma distância de até 10 quilômetros de terras indígenas ou unidades de conservação. O Eco reporta o estudo e diz que as “estradas não planejadas são o primeiro passo para a destruição da floresta” por conta do desmatamento para a abertura do próprio caminho e por serem “vetor para o avanço de madeireiros, pecuaristas e grileiros.” O trabalho do Imazon mostra que as áreas mais ameaçadas por estas estradas são as que compõem a região do Jamanxim, no sul do Pará, por onde passa a estrada que liga Cuiabá a Santarém. Como em outras situações, o tronco oficial serve de base para as muitas ramificações irregulares.

 

Pará condiciona transporte de gado à inscrição no CAR

Desde a semana passada, no Pará, autorizações para o transporte de gado são concedidas somente para fazendas inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), um passo na direção da rastreabilidade da cadeia de produção da carne no estado. Do seu nascimento ao abate, o gado é transferido várias vezes de uma fazenda a outra, ora durante seu crescimento, ora durante sua engorda, até o abatedouro. A criação de gado é reconhecida como um dos vetores do desmatamento ao converter em pasto as áreas abertas pela extração de madeira. O CAR servirá, em breve, para verificar a conformidade das propriedades com o Código Florestal. A decisão do governo do Pará veio após uma recomendação do Ministério Público Federal no estado.

 

Rondônia terá política estadual de governança climática e serviços ambientais

O governo de Rondônia anunciou estar elaborando sua Política Estadual de Governança Climática e Serviços Ambientais (PGSA) e seu Sistema de Governança Climática e Serviços Ambientes (SGSA) com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e recursos da Agência de Cooperação da Noruega (Norad). Com isso, o governador pretende reforçar as ações de conscientização da população e as ferramentas para enfrentar as mudanças climáticas, possibilitando o uso sustentável da grande variedade de recursos naturais da Amazônia. A nova lei é fruto de discussões com representantes de vários segmentos da sociedade, inclusive com comunidades indígenas e extrativistas.

 

Aprovado estatuto do Instituto Global do Ministério Público para o Ambiente

Neste final de semana, procuradores-gerais de 16 países aprovam o estatuto do Instituto Global do Ministério Público para o Ambiente, criado há menos de um ano. Uma das idealizadoras do órgão, a procuradora-geral da República Raquel Dodge, defendeu que “trabalhar pelo ambiente não é uma escolha ideológica, mas um dever humanitário, previsto, inclusive, no Artigo 225 da Constituição brasileira, que estabelece o direito do cidadão ao ambiente ecologicamente equilibrado”. Raquel estendeu esta visão para o mundo todo, posto que “a questão ambiental está interconectada e, por isso, sua proteção deve ser intercontinental”.

 

O futuro Ministro da Relações Exteriores e a proeza de unir ruralistas e ambientalistas

Bruno Blecher, da Globo Rural, diz que a indicação de Bolsonaro para cuidar de sua política exterior conseguiu o feito de desagradar tanto ambientalistas quanto ruralistas. Se não se esquecer do que escreveu, Ernesto Araújo pode reduzir ainda mais a importância que a mudança climática e o Acordo de Paris deveriam ter enquanto política nacional e, se vir mesmo a retirar o Brasil do papel de destaque que sempre teve, acabar enfraquecendo o próprio tecido do Acordo. Na outra ponta, um alinhamento incondicional com a política externa dos EUA de Trump, colocará obstáculos a relações comerciais importantes para o agronegócio com a China, a Europa e os países árabes. Uma verdadeira proeza.

 

Comunicado do G20 deve diluir comprometimento com Acordo de Paris

Até Trump surgir em cena, as reuniões do G20 – grupo das 20 maiores economias do mundo -, assim como as do G7, terminavam com um comunicado conjunto indicando rumos da economia mundial. Com Trump, o esforço dos negociadores é produzir um comunicado que seja aceito pelos EUA. Os sinais sobre a reunião do G20 que começa nesta 6a feira em Buenos Aires não são animadores. Ontem, a versão preliminar que está sendo negociada acabou vazando. Nela, os países não explicitam o apoio incondicional ao Acordo de Paris, simplesmente reconhecendo que existem “circunstâncias diferentes” entre os países que assinaram o Acordo. O documento também não condena o carvão mineral, dizendo que existem várias alternativas energéticas e “diferentes caminhos nacionais possíveis”. O documento não faz qualquer menção ao Relatório Especial 1,5oC do IPCC, seus alertas e suas recomendações.

Um dos negociadores argentinos comentou que isso foi necessário para evitar um “racha” com os EUA nos dias que antecedem a Conferência do Clima, que será realizada na Polônia a partir da próxima semana.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, deu uma entrevista ao jornal argentino La Nación demonstrando sua preocupação com os “devastadores custos da falta de ação” dos governos no enfrentamento da crise do clima. Guterres também está preocupado com “o aumento do medo, da intolerância e da desconfiança em muitos países”, o que ele considera reflexo de divisões cada vez mais acirradas.

 

Financiamento climático aumenta, mas ainda está longe do necessário

Segundo relatório da Bloomberg, a ajuda financeira dada em 2016 pelos países ricos para que o resto do mundo enfrente a mudança do clima somou US$ 70 bilhões. O relatório foi publicado às vésperas da Conferência do Clima deste ano, na qual o financiamento climático certamente será um destaque, com os países pobres pressionando por mais recursos e os países ricos tentando mudar de assunto. Em 2009, os países ricos se comprometeram a – até 2020 – colocar US$ 100 bilhões por ano em fundos com esta destinação. Os EUA de Trump pararam de contribuir e, mais recentemente, a Austrália também. Ao mesmo tempo, o Relatório Especial 1,5oC do IPCC disse que, sem mudanças drásticas e imediatas no rumo das emissões globais, as consequências da mudança do clima serão muito duras. Entretanto, as emissõe globais retomaram uma trajetória de aumento. Sem a ajuda dos ricos, o futuro da população dos países mais pobres parece cada vez mais complicado. O Financial Times e a Reuters também escreveram sobre o assunto.

 

China promete mais esforços para enfrentar a mudança do clima

Xie Zhenhua, o negociador-chefe chinês do clima, disse em entrevista coletiva acreditar que “as promessas que fizemos serão 100% cumpridas e (que) procuraremos fazer ainda melhor. Embora tenhamos encontrado muitas dificuldades e muitos problemas, nossas metas e nossa disposição não mudarão.” Xie também comentou o impacto climático dos projetos do programa internacional chinês “One Belt, One Road” e pediu aos países do G20 que mostrem os progressos realizados em função dos compromissos de Paris.

 

Países em desenvolvimento tomam a ponta na transição para energias limpas

O relatório Climatescope 2018 da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) destaca a forte penetração das fontes limpas nos países em desenvolvimento. Em 2017, os países ricos acrescentaram 63 GW à capacidade instalada, sendo que a BNEF inclui usinas nucleares e hidrelétricas de qualquer tamanho na família das fontes limpas. Os países em desenvolvimento aumentaram sua capacidade limpa em 114 GW, quase o dobro. Isso representou uma taxa de crescimento de 20% na capacidade limpa instalada, o que contribuiu para que os preços da geração limpa continuassem a cair, enquanto nos países ricos essa taxa de crescimento foi praticamente nula. A BNEF diz que aconteceram 35 leilões reversos nos mercados emergentes, aqueles em que o gerador vende sua energia pelo preço mais baixo. Em um leilão realizado no México, a energia fotovoltaica chegou a ser vendida a US$ 21 por MWh. Em outro, na Índia, o MWh eólico foi vendido a US$ 41. A BNEF estima que, em muitos países em desenvolvimento, os custos de geração estão abaixo de US$ 50. Os preços nos últimos leilões no Brasil estão na mesma ordem de grandeza. O trabalho utilizou 165 indicadores agrupados nas categorias Fundamentos, Oportunidades e Experiência, e, com estes, classificou os 100 países estudados. No resultado agregado, o Chile aparece em 1º lugar, em função das políticas governamentais de estímulo ao aumento da capacidade. Em 2º ficou a Índia, onde estão ocorrendo os leilões mais competitivos. A Jordânia ficou em 3º, pelos mais de 700 MW de geração limpa instalados entre 2015 e 2017. Em 4º aparece o Brasil, “a despeito da queda no investimento em fontes limpas e o cancelamento de leilões”, e por sinalizar que o pior da crise já passou e que está pronto para retomar o crescimento.

 

A retração das geleiras do Everest

É sabido que o aquecimento global está reduzindo o tamanho das geleiras em todos os cantos do mundo. Continua sendo chocante ver mudanças dramáticas acontecendo em pouquíssimo tempo. A Inside Climate News colocou em seu site um ensaio fotográfico e um vídeo feito na região do Everest. Para quem conhece um pouco das histórias das escaladas do pico mais alto do planeta, a cascata de gelo do Khumbu está se retraindo 30 metros todo ano. O que mais se vê nas fotos são as rochas que ficavam no fundo das geleiras. Também chamam a atenção os novos lagos que apareceram onde o gelo derretido ficou aprisionado por algum tipo de represamento ou depressão. Um destes lagos mede 2 km de extensão por 1 km de largura. A cascata de gelo do Khumbu é considerada um dos maiores riscos na escalada do Everest pela sua constante movimentação. Sua retração a deixa ainda mais perigosa.

 

Para ir

The growing green debt market and its technological opportunities

Seminário promovido pelas Febraban, Cebds e Green Assets Wallet discutirá as oportunidades dos mercados verdes e como novas tecnologias digitais podem dinamizá-los.
Dia 3 de dezembro, das 8h30 às 12h, na Febraban:  Av. Brig. Faria Lima, 1.485 – Torre Norte, 12º andar, São Paulo. Mais informações, programação e inscrições aqui.

 

Para ver

Global assessment and mapping of changes in mesoscale landscapes: 1992–2015

O Daily Mail publicou uma série de mapas de alta resolução montados a partir de imagens de satélite da Agência Espacial Europeia, mostrando a mudança do uso da terra ao longo de mais de duas décadas. Quase ¼ da área habitável do planeta que tinha florestas virou lavoura e pasto. Cada pixel corresponde a 300 m2, e foram mapeadas 9 tipos de uso do solo: floresta, agricultura, áreas úmidas (pântanos, brejos), vegetação rasteira, savanas, vegetação esparsa, áreas sem vegetação, áreas urbanas e água. O trabalho foi publicado no International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation.

 

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