Salles “explica” o inexplicável

Na semana passada, os ministros da agricultura, do meio-ambiente e o futuro ex-secretário de governo foram a uma terra indígena, posaram de cocar e, também, em cima de uma colheitadeira de soja. Tudo para justificar a narrativa segundo a qual os índios querem progresso e modernidade. O problema, segundo a matéria da Folha, é que os ministros escolheram visitar uma área embargada pelo Ibama por conta de três ilícitos: “o cultivo de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) em área indígena, prática proibida pela Lei 11.460; o impedimento da regeneração da vegetação nativa; e o funcionamento de atividades utilizadoras de recursos naturais.” Os OGMs foram encontrados tanto nos hectares plantados pelos índios quando na parte por eles arrendada a não-índios. O ministério da agricultura, em verdadeiro contorcionismo, disse que estava tudo acordado, mas acabou desistindo do discurso depois que o Ministério Público avisou que não havia acordo algum e que o site do Ibama registrava a terra como embargada. Mesmo assim, Salles veio mais uma vez a público dizendo que “a plantação não é ilegal, tanto que ela foi feita durante 13 anos. Eles começaram a plantar desde 2005 e, de repente, apenas em 2017, é que os órgãos tanto de meio ambiente quanto de controle específicos do estado [do Mato Grosso] foram lá e tomaram posições que vão contra essa atividade indígena que já era feita há 13 anos.”

Nada a comentar, mas lembramos de Noel Rosa: “Meu Deus do céu, que palpite infeliz”.

Em tempo: neste final de semana começou a circular um abaixo assinado pedindo a demissão de Salles. Até o fechamento destas notas, haviam quase 300 mil assinaturas.

 

Boletim ClimaInfo, 18 de fevereiro de 2019.