Desenvolver a Amazônia é sinônimo de preservação ambiental

O governo, presidente e ministério, insiste que a defesa do meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento do país e que o mundo dos negócios estaria bem melhor sem a legislação ambiental. No final de semana saíram dois artigos que provam o contrário – que o desenvolvimento do país se dá no território, no meio ambiente, e que a destruição do meio ambiente, sim, impede o desenvolvimento econômico e social de um país. Virgílio Viana, ex-Secretário de Meio Ambiente do Amazonas, explica que “afrouxar o licenciamento ambiental aumenta a margem de lucro das empresas, em função da redução dos custos. Porém, quando ocorre um desastre ambiental, o que há é uma socialização dos prejuízos, que são pagos pela sociedade como um todo”. Talvez Viana não tenha levado em consideração que os prejuízos que a Vale está contabilizando com a paralisação de operações – tanto em Brumadinho quanto em Mariana, sem falar no desgaste da marca – devem superar o custo de cuidar das barragens para que elas não desabem.

Felipe Biasoli da Universidade Federal Fluminense escreveu um belo artigo sobre a exploração sustentável da floresta amazônica ser a melhor alternativa para preservá-la e, ao mesmo tempo, promover a melhoria da qualidade de vida da população que ali vive. Ele contrapõe este caminho apontado pelo governo que prioriza os negócios em detrimento da floresta e de seus povos, assim como a tese de que é preciso colocar uma cerca e proibir qualquer atividade econômica na região. Biasoli escreve que “as duas visões anteriores, tidas como inimigas mortais, são irmãs siamesas no que mais importa: ambas sofrem da falta de respostas práticas e imediatas para a melhoria real das vidas dos amazônidas.” O caminho é “valorizar os ativos da floresta viva: serviços ambientais oferecidos ao mundo pela manutenção da preservação, seus benefícios em termos de sequestro de carbono, presença do maior laboratório a céu aberto para pesquisas em fármacos, repositório de alimentos saudáveis ainda pouco explorado, serviços de biotecnologia com enorme possibilidade de desenvolvimento, potencial de expansão dos sistemas agroflorestais, consolidação do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, aptidão para exploração legalizada de madeira (…) A lista poderia prosseguir indefinidamente, mas a conclusão é contundente: preservar a floresta não pode ser ônus imposto aos amazônidas para fazer o resto do país e do mundo dormirem com a consciência tranquila. Preservar a floresta e utilizá-la de modo sustentável significa colher seus louros, oferecendo vida digna a quem ali vive.”

 

Boletim ClimaInfo, 19 de março de 2019.