O Brasil na COP25

Brasil COP25

Não se conhecem as posições que o Brasil levará para as várias mesas de negociação na Conferência do Clima de Madri (COP25), que começou ontem. A situação este ano é, no mínimo, inusitada.

Jake Spring, da Reuters, ouviu várias fontes sobre a delegação brasileira (o UOL publicou uma tradução da matéria) e descobriu que eles “estão desconectados dos líderes políticos e não têm clareza sobre seus objetivos”. Spring diz que isso significa que os negociadores poderiam chegar a acordos que correriam o risco de serem rejeitados pelo governo.  Isso apesar da inusitada permanência do ministro Salles, que estará presente durante as duas semanas que dura a Conferência, quando o mais habitual é que os ministros compareçam na segunda semana ou mesmo só nos últimos dias. A pauta que Salles anunciou se resume a passar o chapéu e pedir recursos para preservar a Floresta Amazônica.

O entendimento, por parte do governo, de que o país tem direito a receber uma compensação financeira pelos esforços de redução de emissão que realizou foi um dos temas do encontro de pesquisadores que a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) promoveu como preparação para a COP25. Thelma Krug, vice-presidente do IPCC, comentou: “O Brasil vai a essa COP sem condição de pleitear absolutamente nada. Talvez tenha mais sucesso quando tiver resultados específicos e ações críveis para apresentar, como fez em 2009 e resultou na criação do Fundo Amazônia”. A opinião foi corroborada por Tasso Azevedo, do Observatório do Clima: “O Brasil chegará à essa COP para dizer que não tem recursos quando matou o principal e o maior instrumento de financiamento do clima, que é o Fundo Amazônia.”

Na Deutsche Welle, Tasso Azevedo alertou que “a gente vai estourar, e em muito, a meta de desmatamento em 2020. A promessa feita em Paris de reduzir o desmatamento ilegal na Amazônia a zero até 2030 também está ameaçada. Hoje, 90% do desmatamento é ilegal.” Ele também lamentou o prestígio perdido: “O Brasil perdeu o ambicioso papel de protagonista que vem desempenhando desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992. O Brasil tinha todas as condições e vinha tendo uma atitude de ser protagonista, de dar um empurrão para que pudéssemos ser mais ambiciosos nas metas do clima. Mas no momento perdemos essas ambições.”

Sergio Leitão, do Instituto Escolhas, também conversou com a Deutsche Welle falando sobre as fontes renováveis no país. “A matriz energética brasileira é limpa. Mas ela corre o risco de ser crescentemente ocupada por maiores emissões de gás de efeito estufa, por causa da participação maior do gás na matriz elétrica (…) Se isso vier a ocorrer, o gás vai bloquear exatamente o espaço para que se aumente a participação de energia eólica, solar e de biomassa.”

Ao escrever sobre o papel do país na COP25, Carolina Amaral, da Folha, apontou o fato, simbólico, de que, este ano, nem estande o país montou. Sua matéria dá uma rápida passada pelas posições de outros países.

 

ClimaInfo, 3 de dezembro de 2019.

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