Investimentos verdes para a saída da crise

investimentos verdes

Para enfrentar a crise econômica global que está a caminho por conta da pandemia, governos e organizações multilaterais estão abrindo os cofres para manter a população e empresas vivas. Os temas da mudança climática e do Acordo de Paris estão aparecendo com força neste cenário, como critérios verdes de alocação destes recursos.

“Os governos precisam colocar enormes quantias de dinheiro para sustentar empregos e as condições de vida das populações”, disse Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos. “Mas devem fazê-lo com uma ênfase verde muito forte. A ameaça das mudanças climáticas é tão real quanto a ameaça da COVID-19, embora pareça muito distante. Desde o Acordo de Paris, muito dinheiro foi para a indústria de combustíveis fósseis”, disse, e “isso não pode continuar.”

A matéria do The Guardian também traz uma fala de Fatih Birol, diretor da Agência Internacional de Energia (IEA): “Os governos estão elaborando planos de estímulo para combater os danos econômicos do coronavírus (…) Esses pacotes de estímulo são uma excelente oportunidade para garantir que a tarefa essencial de construção de um futuro energético seguro e sustentável não se perca em meio à enxurrada de prioridades imediatas”.

Os sinais de crise da indústria fóssil estão cada vez mais fortes, e nos mostram que a transição da matriz energética pode vir a ser menos traumática do que muita gente quer fazer crer. A indústria fóssil chegou a ocupar 25% do índice Standard & Poors 500 na década de 80, logo após os choques do petróleo. Foi quando sete entre as 10 mais eram fósseis. No final do ano passado, estas eram responsáveis por apenas 4,3% dos negócios e nenhuma estava entre as 10 mais.

Um trabalho do Instituto de Análise Econômica e Financeira da Energia (IEEFA) mostra exemplos de sucesso de corporações que decidiram limpar sua matriz passando a comprar energia de plantas solares e eólicas. As cinco novas gigantes Amazon, Apple, Facebook, Alphabet’s Google e Microsoft assumiram compromissos fortes com fontes de energia cada vez mais limpas. Do mesmo modo, nove dos 10 maiores bancos dos EUA se comprometeram a operar com 100% de energia limpa e três deles já atingiram a meta.

Mesmo assim, seja pelo pouco comprometimento de governos, seja pelos atrasados sistemas de governança, ainda falta muito para que as metas de Paris pareçam próximas.

O trabalho, no entanto, termina com uma nota otimista, olhando para os preços cada vez mais baixos das renováveis: “Como a pandemia continua e o petróleo e seus estoques continuam a sofrer choques, o investimento em projetos de energia renovável é o caminho a seguir.”

 

ClimaInfo, 26 de março de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)