Lições de outras pandemias para não agravar esta

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O historiador Marcos Leitão de Almeida aponta as quatro grandes lições a serem aprendidas a partir do estudo das grandes pandemias registradas na história, sob o risco de agravarmos ainda mais a tragédia social da COVID-19.

A primeira é simples: o alcance e velocidade das pandemias é a dos humanos que as carregam. A Peste Negra ou Bubônica, começou em algum lugar da China e se espalhou pela Rota da Seda até chegar na Europa, na velocidade das caravanas. O Império Britânico trouxe um dos grandes surtos de varíola da Índia para os bairros operários na Inglaterra na velocidade dos primeiros navios a vapor. O HIV partiu do Congo africano para o mundo desenvolvido nas asas dos jatos e, de lá, para o mundo. Encontrar o morcego ou o pangolim que nos transmitiu o Sars-CoVid-2 é apenas uma parte da história. Portanto, escreve Leitão, “a história dos patógenos se confunde com as rotas de expansões humanas”.

A segunda lição é que sempre surge um bode expiatório. Leitão conta que os judeus foram responsabilizados pela Peste Negra. A AIDS foi, durante um tempo, a doença dos quatro Hs: homossexuais, hemofílicos, viciados em heroína e haitianos. Agora presidentes dizem que a pandemia é causada por um vírus chinês.

A terceira lição associa as pandemias a teorias conspiratórias. Leitão conta que “um caso famoso foi o de Edward Hooper, jornalista estadunidense que divulgou que a AIDS evoluiu em meio às campanhas de vacinação contra a pólio na África Central nos anos 1950 e 60. Hooper argumentava que, como as vacinas eram produzidas a partir de células de chimpanzés, elas poderiam ter transmitido o vírus da imunodeficiência símia a humanos e, a partir daí, desenvolvido o HIV.” Hoje vemos carreatas gritando que o Sars-Covid-2 é um vírus chinês criado em laboratório para dominar o mundo. “A pior faceta das teorias conspiratórias talvez seja a politização da doença legitimando posições negacionistas.”

A última lição é otimista. As pandemias fizeram aparecer cientistas geniais, líderes responsáveis e populações criativas e solidárias.

“Esses quatro ensinamentos sinalizam o perigo de estigmatizarmos grupos, de condenarmos povos, de aceitarmos cegamente soluções mágicas e, sobretudo, de ignorarmos o trabalho de cientistas, historiadores e jornalistas (… ) Cabe a nós, neste momento, ou insistirmos nas opções que já causaram tantos sofrimentos e tantas mortes, ou aprendermos as lições e superarmos, juntos, informados, mais esta crise”. O artigo saiu n’O Globo.

 

ClimaInfo, 20 de abril de 2020.

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