A destruição de ecossistemas naturais pode fazer com que animais como ratos e morcegos convivam cada vez mais próximos dos seres humanos, aumentando consideravelmente o risco do surgimento de novas doenças zoológicas, como a COVID-19.
Um novo estudo, publicado ontem (5/8) na revista Nature, analisou quase 7 mil comunidades de animais em seis continentes e constatou que a conversão de locais selvagens em terras agrícolas ou assentamentos humanos geralmente favorece a proliferação de espécies menores, livres de caçadores de maior porte e adaptáveis às condições de vida humana. Essas espécies também são as que carregam o maior número de patógenos que podem ser perigosos aos seres humanos. De acordo com o estudo, populações de animais hospedeiros de doenças zoonóticas eram até 1,5 vezes maiores em locais degradados, e a proporção de espécies que carregam esses patógenos aumentou em até 70% em comparação com ecossistemas não danificados.
Na mesma linha, o médico sanitarista e ex-presidente da ANVISA, Gonçalo Vecina, alertou em entrevista à Globonews que o desmatamento na Amazônia pode levar a outras epidemias, como a da COVID-19, pelo fato da floresta abrigar uma variedade desconhecida de vírus. “Na Amazônia, tem uma quantidade de vírus imensa. A próxima epidemia, com o nível de agressão que nós estamos fazendo ao meio ambiente, já está a caminho”, disse Vecina, que defendeu também investimentos em pesquisa científica para a identificação desses vírus e o desenvolvimento de remédios e vacinas, bem como para a preservação da floresta.
As principais conclusões da pesquisa foram destacadas pelo Neomondo e pelo The Guardian.
Em tempo: Na Folha, Luís Fernando Guedes Pinto (Imaflora) e Tasso Azevedo (MapBiomas) também reforçaram essa conexão entre degradação ambiental e doenças, além de acrescentar mais um elemento: a pobreza. “As curvas da evolução da pobreza, da fome e do desmatamento no Brasil têm o mesmo padrão: grande queda até 2012-14 e ascensão nos anos seguintes. E fenômenos que pareciam isolados, agora se conectam com a pandemia de COVID-19: fazem parte do sistema agroalimentar, onde natureza, agricultura, alimento e saúde se interligam”, apontaram . “A COVID-19 apenas acentua a trajetória perversa em que entramos. E aponta a necessidade de políticas integradas para o sistema agroalimentar”.
ClimaInfo, 6 de agosto de 2020.
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