A intersecção entre justiça racial e justiça climática

racismo ambiental

Independente do local, o cenário é muito parecido: instalações com alto impacto em termos de contaminação, poluição e emissões de carbono muitas vezes estão próximas a comunidades pobres e marginalizadas, tanto nas cidades como no campo. A operação diária dessas unidades não apenas prejudica o bem-estar e a saúde dessas pessoas, mas também contribui para que a vida delas seja mais difícil no futuro por conta da crise climática. São essas mesmas comunidades as que mais sofrem com enchentes, deslizamentos de terra, falta de água em temporada seca, entre outros problemas.

No fundo de todas essas questões, encontra-se o racismo ambiental. Os grupos sociais mais pobres e vulneráveis, historicamente excluídos dos processos de participação política, prejudicados com a precariedade das condições de vida, com o não reconhecimento de seus direitos, e com a marginalização econômica são os mesmos que sofrem com a contaminação e a destruição de seus territórios, de seu solo e de sua água.

O UOL Ecoa vem levantando esse debate na imprensa brasileira nos últimos tempos. Um exemplo é a reportagem especial de Diana Carvalho e Fernanda Schimidt, que mergulha na realidade de diversas comunidades marginalizadas no Brasil, desde favelas até territórios Quilombolas, para mostrar como elas sofrem cotidianamente com desastres ambientais, contaminação e doenças causadas pela degradação ambiental que acontece em seu entorno.

Outra reportagem, de Paula Rodrigues, destaca como a pandemia e os problemas causados por ela em comunidades carentes no Rio de Janeiro ressaltaram a importância de se discutir sobre mudança do clima e como combater seus efeitos, à luz da ideia de justiça climática.

Como explica Andréia Coutinho, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), em seu artigo no Le Monde Diplomatique, esse conceito “nos provoca – e convoca – à impossibilidade de discutir uma perspectiva sobre futuro sem a participação periférica, dos homens e mulheres negras, da população Quilombola, das Comunidades Tradicionais e de outros grupos marginalizados e ditos ‘vulneráveis’”. Segundo ela, a justiça climática explicita um paradoxo: o debate sobre clima tem sido conduzido por uma comunidade branca e homogênea, “ensimesmada em seus debates diplomáticos com os mesmos atores, porta-vozes, negociadores, lideranças e clubes excludentes que ousam falar de clima sem falar de desigualdades sociais e raciais”.

Em tempo: Vale a pena ler a reportagem do The New York Times que mostra como a crise climática, especialmente a elevação da temperatura e as ondas de calor, se desdobra de diferentes maneiras ao redor do mundo, com impactos mais graves em regiões pobres, como o continente africano, o Oriente Médio e a América Central. Mais uma vez, os grupos sociais mais marginalizados são os que mais sofrem com esse problema.

 

ClimaInfo, 10 de agosto de 2020.

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