Mourão e Heleno tropeçam na própria língua para explicar atuação militar na Amazônia

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O fracasso das ações militares de combate ao desmatamento na Amazônia realizadas até agora, que é evidenciado pela persistência de altas taxas de desmatamento e de queimadas na floresta, está causando dores de cabeça para os militares que batem ponto no governo federal.

Na semana passada, o Partido Verde entrou com ação no STF para pedir explicações ao Palácio do Planalto sobre a militarização das políticas federais para a Amazônia, sob o comando de Mourão, de seu Conselho da Amazônia e da Operação Verde Brasil 2. A relatora da ação, ministra Cármen Lúcia, fez aquilo que se espera em qualquer processo judicial movido contra uma autoridade: pediu explicações.

Pois bem, para o ministro do GSI, general Augusto Heleno, isso é um absurdo. Em um post no Twitter, Heleno questiona o pedido de Cármen Lúcia em tom jocoso. “Perdão, cara Ministra, se a Sra. conhecesse essa área, sabe qual seria sua pergunta: ‘O que seria da Amazônia sem as Forças Armadas?'”, escreveu o general. UOL e Estadão repercutiram o post do ministro.

Em entrevista ao Estadão, Heleno repetiu as bravatas de sempre, questionando as críticas de investidores e empresas internacionais à situação ambiental do Brasil, que seriam motivadas por interesses comerciais para prejudicar o país. Ele também refutou a campanha #DefundBolsonaro, dizendo que o vídeo viralizado nas redes teria “várias informações (…) fabricadas, mal intencionadas”, mas não se dignou a apontar quais delas. Outro alvo do general aposentado são as “ONGs”, um dos bichos-papões preferidos deste governo: para Heleno, o acordo comercial Mercosul-União Europeia não pode ser ameaçado “por influência de ONGs que não têm compromisso com nada, são francos [sic] atiradores”

Na paralela, Mourão encarou a mesma pergunta em um evento virtual realizado pelo Estadão na 6ª feira (4/9). Ele justificou a atuação dos militares na Amazônia porque “faltam pernas” aos órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização de crimes ambientais. O vice atribuiu a situação ao esvaziamento do quadro funcional dessas instituições, que não puderam repor os servidores que se aposentaram nos últimos anos e que sofrem com constante restrição orçamentária. A Folha destacou a fala.

Segundo o El País Brasil, a judicialização das ações militares na Amazônia no STF ameaça acentuar as tensões entre a Corte e o governo Bolsonaro, poucos meses após o presidente ter especulado sobre a possibilidade de uma “intervenção militar” no Judiciário por conta de processos contra ele e seus filhos.

 

ClimaInfo, 8 de setembro 2020.

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