Bolsonaro e ruralistas usam informações falsas para contestar Macron

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E segue a choradeira do governo federal pelas críticas feitas pelo presidente francês Emmanuel Macron ao impacto da produção de soja no desmatamento na Amazônia. Depois de Mourão e do chanceler Araújo dispararem os primeiros desaforos, Bolsonaro assumiu a linha de frente da reação do governo: no estilo “a melhor defesa é o ataque”, ele acusou Macron de fazer “politicalha” e de insistir fazer “campanha” contra o Brasil. “A França produz de soja 20% do que a cidade de Sorriso produz aqui em Mato Grosso. Fica falando besteira aí, ô, seu Macron, não conhece nem o seu país e fica dando pitaco aqui no Brasil”, disse Bolsonaro. Deutsche Welle, Estadão, Exame, Metrópoles e O Globo repercutiram as declarações.

O agronegócio também respondeu às críticas de Macron. A ABIOVE, associação das indústrias de óleos vegetais, afirmou que a soja produzida na Amazônia “é livre de desmatamento desde 2008 graças à Moratória da Soja”. A Moratória também foi lembrada pelo ministério da agricultura como um dos fatores favoráveis à soja brasileira.

No entanto, como o Fakebook.eco esclareceu, a existência da Moratória em si não significa que a soja produzida na Amazônia seja “livre” de desmatamento nem que haja “risco zero” de exportação de soja de áreas desmatadas ilegalmente no bioma. O fact-check ressaltou um estudo mostrando que cerca de 20% da soja dos biomas Amazônia e Cerrado exportada para países europeus entre 2008 e 2018 vieram de propriedades rurais com registros de desmatamento além dos limites estabelecidos pelo Código Florestal.

Dois dos autores do estudo, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também mostraram na imprensa o equívoco das declarações do governo e de representantes do agro sobre a soja na Amazônia. Para a BBC Brasil, Britaldo Soares disse que essas falas são “apenas um achismo”, sem sustentação científica. Já Raoni Rajão argumentou que a complacência dos setores responsáveis do agro com aqueles que desmatam sem controle abre espaço para críticas como as do presidente francês. “Por mais que haja esse lobby do agro francês, os protecionistas não teriam tanto espaço para avançar se o próprio Brasil não estivesse dando essa oportunidade”, disse à Exame.

 

ClimaInfo, 18 de janeiro de 2021.

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