Projeto de mina de carvão compromete posição do Reino Unido em negociações climáticas

carvão Cumbria

Há alguns dias, destacamos aqui o esforço do governo de Boris Johnson no Reino Unido para aproveitar a agenda climática internacional como uma oportunidade para reposicionar os britânicos na geopolítica mundial pós-Brexit. Anfitrião da próxima Conferência da ONU sobre Clima (COP26), Johnson tem apostado bastante em uma plataforma política “verde”, com metas climáticas ambiciosas. No entanto, tudo isso pode ser perdido caso o governo britânico siga adiante com o projeto de uma nova mina de carvão em Cumbria, no norte da Inglaterra. O pesquisador James Hansen, um dos maiores nomes da ciência climática nas últimas décadas, encaminhou uma mensagem a Johnson com fortes críticas ao projeto de mineração. Segundo Hansen, a insistência de Londres com a mina de Cumbria mostra “desprezo hediondo pelo futuro dos jovens” e resultará em uma “humilhação” para os britânicos. “Ao liderar o Reino Unido, como anfitrião da COP, você [Johnson] tem a chance de mudar o curso de nossa trajetória climática – ou pode manter as coisas como estão e ser difamado nas ruas de Glasgow, Londres e em todo o mundo”, afirmou.

Para quem não o conhece, Hansen foi uma das pessoas mais importantes a destacar o risco da mudança do clima ainda no final dos anos 1980. Ele participou de uma audiência pública no Congresso dos EUA em 1988, tida como um dos principais episódios que contribuíram para que o governo George Bush aceitasse negociar a UNFCCC, assinada durante a Rio-92 quatro anos depois. Não à toa, Hansen encaminhou uma cópia da carta a Johnson para um dos senadores que participaram daquela audiência há mais de 30 anos – o agora enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry.

BBC, Bloomberg, Financial Times, Guardian e Independent repercutiram as críticas ao projeto de mineração em Cumbria.

Em tempo: Um novo estudo meteorológico apresentou um panorama climático preocupante para a França. De acordo com a análise, se as emissões de carbono não tiverem uma queda drástica nos próximos anos, os franceses poderão ter de 20 a 35 dias de ondas de calor por ano no final deste século, podendo chegar a 60 dias no sul do país, com temperaturas que deverão atingir 50°C. Nesse cenário, o aumento da temperatura média global até 2100 ficaria em 3,9°C, quase o dobro da meta máxima definida pelo Acordo de Paris, de 2°C. RFI deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 5 de fevereiro de 2021.

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