O mundo mágico (e mentiroso) de Jair Bolsonaro na ONU

22 de setembro de 2021

O discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU não fugiu daquilo que se podia esperar do presidente brasileiro – um festival de desinformação e negacionismo. Em uma fala que não fez sentido algum para o público internacional, Bolsonaro aproveitou o púlpito da ONU em Nova York para pregação ideológica a seus seguidores fundamentalistas, apresentando um país que só existe em sua cabeça, “um Brasil diferente daquilo publicado em jornais e visto em televisões”.

Contrariando os números agregados de desmatamento na Amazônia no último ano, Bolsonaro tentou vender a narrativa de que o Brasil estaria avançando no combate ao desmatamento na Amazônia, destacando o dado relativo ao mês de agosto, que mostrou queda de 32% no ritmo de desmate. No entanto, o presidente não dedicou uma sílaba sequer ao fato de que a Amazônia chegou ao 2º ano seguido com os maiores índices de destruição desde 2015, conforme apontado pelo INPE.

Sobre a questão climática, Bolsonaro dedicou apenas algumas frases, mesmo depois de o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da Assembleia Geral, Abdullah Shahid (Maldivas), terem reforçado a crise do clima como um dos principais desafios globais contemporâneos. “Chovendo no molhado”, o presidente brasileiro repetiu que o Brasil está comprometido com a descarbonização de sua economia até 2050 e defendeu o destravamento do comércio internacional de carbono nas negociações do Acordo de Paris. Sobre a NDC brasileira, uma das mais criticadas pela falta de ambição, nenhuma palavra.

“Com a fala de Bolsonaro, o Brasil, que sempre ocupou posição de protagonismo na agenda ambiental, dada a relevância da Amazônia para que o mundo reduza os impactos do aquecimento, reafirma sua posição negacionista na ONU”, escreveu André Borges no Estadão. Para Patrícia Campos Mello, na Folha, “Bolsonaro maquiou tanto a realidade que é preciso ter um dicionário bolsonarista para decifrar a avalanche de desinformação na fala dele”. N’O Globo, Natalie Unterstell vai na veia do falatório vazio de Bolsonaro: “O governo ainda está encarando o problema público da mudança do clima como uma questão de imagem. Infelizmente, não se trata apenas disso. Por isso, os remédios publicitários não farão efeito”, escreveu.

“O Brasil transformou a tribuna mais sagrada da diplomacia em um disseminador de mentiras e vergonhas”, comentou um diplomata estrangeiro a Jamil Chade no UOL. “Sua fala distorceu dados e manipulou informações. É um Brasil onde os Povos Indígenas vivem em paz, a democracia foi o mote das manifestações de Sete de Setembro e o país recuperou credibilidade externa”, escreveu Daniela Chiaretti no Valor.

No El País, Carla Jiménez é ainda mais dura. “O projeto de Bolsonaro já foi derrotado e ele sabe disso, embora não admita. Seu discurso na ONU mostra que ele já jogou a toalha, pois não há lugar para um presidente que jura amor à Constituição enquanto ataca a democracia, a ciência, a Amazônia, a imprensa, e zomba das conquistas coletivas de um mundo que precisa desesperadamente se reerguer depois de padecer com a pandemia”.

O discurso fantasioso de Bolsonaro também foi destaque na imprensa internacional, com manchetes em veículos como Associated Press, CNN, NY Times e Reuters.

 

ClimaInfo, 22 de setembro de 2021.

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