Os sonhos bilionários com créditos de carbono no Brasil

créditos de carbono cebds Marina Grossi

A receita potencial com a venda de créditos de carbono não para de aumentar. Ontem, Daniela Chiaretti, do Valor, comentou uma nota técnica do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (cebds), obtida com exclusividade, indicando que o país poderá “gerar receitas líquidas de US$16 bilhões a US$72 bilhões” vendendo créditos de carbono.

Também ontem, o Estadão e o Valor deram uma pista de onde viria tamanho apetite pelos nossos créditos: a China. Cláudia Trevisan, diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), disse que as negociações do Artigo 6 do Acordo de Paris deverão criar um mercado global de carbono e que a China será um grande demandante de créditos de carbono.

É interessante observar que o tal Artigo 6 não cria mercado algum. Ele trata do uso de instrumentos econômicos para alavancar a cooperação voluntária entre países para mitigar emissões. Se as negociações forem bem-sucedidas, a regulamentação do Artigo tratará das obrigações da parte vendedora nessas transações voluntárias entre países. Não há obrigações para as partes compradoras e, assim, ninguém será obrigado a comprar nossos créditos.

Quanto à China, um trabalho recente estima que o país poderia ter um volume de mais de 400 milhões de créditos de carbono do Protocolo de Kyoto que não foram usados. É mais provável que o mercado de carbono chinês se alimente do seu cap-and-trade complementado pelos créditos de carbono de seus próprios projetos. Seria temerário apostar numa demanda bilionária como declarado.

Outra possibilidade para uma demanda deste tamanho viria das petroleiras que, conforme dissemos na 4ª feira, estão ensaiando vendas casadas entre cargas de gás natural liquefeito e créditos de carbono para compensar as emissões de sua queima. O problema é que para limitar o aquecimento global, será imprescindível abandonar de vez os combustíveis fósseis. Assim, tais vendas casadas só servem para atrasar a transição.

 

ClimaInfo, 15 de outubro de 2021.

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