“Não é hora de fatalismo”, recomenda veterano das negociações do Acordo de Paris sobre dificuldades na COP26

COP26 negociações climáticas

Com a incerteza se acumulando na véspera da Conferência do Clima de Glasgow (COP26), o ex-ministro francês Laurent Fabius ofereceu uma palavra de incentivo para os negociadores superarem as divergências e avançarem na implementação do Acordo de Paris: “Não é hora para fatalismo climático. Precisamos que a ciência, as sociedades e os governos estejam alinhados para os próximos passos cruciais [na luta contra a crise climática]”, escreveu no Guardian. Fabius fala com conhecimento de causa: ele foi o presidente da COP21, um dos principais responsáveis pela costura diplomática que resultou na aprovação do Acordo em 2015, na capital francesa.

Ele destacou quatro objetivos fundamentais para a COP26: terminar a negociação em torno do “Livro de Regras” do Acordo de Paris (leia-se Artigo 6 e a regulamentação dos mercados de carbono); ampliar o financiamento climático para os países pobres e vulneráveis, tanto para mitigação quanto para adaptação; aumentar a ambição dos compromissos nacionais de redução de emissões; e considerar pontos importantes, como a proteção da biodiversidade e a promoção da justiça climática, que ganharam peso maior nos últimos anos.

Enquanto isso, a costura diplomática para a COP26 segue cuidadosa, ainda que lenta. Nesta 4ª feira (27/10), o enviado especial da China para o clima, Xie Zhenhua, se encontra com seu contraparte da União Europeia, Frans Timmermans, em Londres. De acordo com a Reuters e a Bloomberg, chineses e europeus querem aproveitar a ocasião para analisar o quadro geral das negociações em Glasgow. A UE ainda espera por um novo compromisso climático da China durante a COP, ainda que Pequim siga argumentando que o foco esteja na implementação dos compromissos atuais, e não na revisão de suas metas. David Stanway escreveu na Reuters sobre a frustração de negociadores e líderes internacionais com a ausência do presidente Xi Jinping nas conversas em Glasgow. O governo chinês será representado pelo vice-ministro do meio ambiente, Zhao Yingmin, um nome de segundo escalão na burocracia comunista em Pequim. A falta de uma liderança mais forte da China na COP26 pode dificultar as conversas entre os países, especialmente em pontos delicados, como o abandono do carvão ainda nesta década.

Outro ponto delicado das negociações em Glasgow será a definição do artigo 6 do Acordo de Paris. Para Nina Chestney, na Reuters, um entendimento entre os países acerca dessa questão será uma das tarefas mais complexas e importantes da COP26, já que o tema é central para a implementação do Acordo de Paris. No Climate Home, Chloé Farand comparou as conversas a um jogo de xadrez, com chances iguais de sucesso e fracasso. Uma novidade recente nessas discussões é a sinalização pelo Brasil de um abrandamento de sua posição no tema: em 2019, na COP25, o país foi um dos responsáveis pelo fracasso nessa negociação, por conta de sua intransigência na defesa de regras mais flexíveis para o comércio de créditos de carbono sob o Acordo de Paris.

 

ClimaInfo, 27 de outubro de 2021.

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