Caminhar a céu aberto tornou-se uma tortura. Com o sol a pino e o ar abafado, não há como não se sentir sujo, suado, cansado, confuso, irritado. Nem mesmo a penumbra da noite ajuda: o ar quente parece transformar os quartos em fornos, especialmente para os “azarados” – aqueles que não tem condições de comprar (e/ou pagar pela energia consumida por) um equipamento de ar-condicionado. Essa descrição sintetiza a experiência que centenas de milhões de indianos e paquistaneses estão vivendo nas últimas semanas sob uma forte onda de calor.
No Climate Home, Sapna Verma abordou como uma simples caminhada de dez minutos tornou-se inviável nos últimos dias na Índia. No entanto, não são todos que têm a alternativa de não sair de casa: milhões de pessoas pobres, especialmente aquelas que dependem da rua para seu ganha-pão, estão experimentando esse calor de maneira contínua sem qualquer alívio. Isso evidencia como a crise climática é também um reflexo das desigualdades sociais, raciais e econômicas que marcam o mundo contemporâneo. Não à toa, a maior parte daqueles que sofrem com os efeitos mais intensos do calor é composta por pessoas não brancas, pobres e vulneráveis.
A situação ganha tons mais dramáticos por conta da falta de energia elétrica que atinge algumas das principais cidades afetadas pelo calor. Os estoques de carvão, principal combustível para geração elétrica na Índia, estão no pior nível em quase uma década. O aumento da demanda, causada pela utilização de equipamentos de refrigeração, colocou mais pressão sobre o sistema elétrico indiano, que já sofria com os efeitos da crise energética internacional. Enquanto isso, o calor segue inclemente: em Nova Déli, capital da Índia, abril fechou como o mais quente em 12 anos, com temperatura máxima de 43,5°C.
Associated Press, Bloomberg, Deutsche Welle, Financial Times, Independent e Reuters destacaram os efeitos do calor forte na Índia e no Paquistão.
ClimaInfo, 2 de maio de 2022.
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