Integração das fontes renováveis de energia de Brasil, Argentina e Chile pode ser caminho para conta de luz com preço justo

Esquema de possível integração das linhas de transmissão da America do Sul

Países têm picos alternados de potencial de geração de eletricidade ao longo do ano por fontes eólica, hidrelétrica e solar. Sinergias podem ajudar a eliminar uso de energia proveniente da queima de combustíveis fósseis .

As energias renováveis são as formas mais econômicas de produzir eletricidade em quase todas as geografias do mundo, especialmente na América do Sul. O Brasil gera a maior parte da sua eletricidade com água e desponta na região como líder no crescimento de eólica e solar. Mas a conta de luz dos brasileiros não pára de subir. Entre outros fatores, isto ocorre porque o país ainda se apoia na crença de que queimar combustíveis fósseis são a única forma de garantir a segurança do sistema. Um estudo comissionado pelo ClimaInfo junto ao IEI aponta para uma forma mais eficiente: a integração energética renovável da América do Sul.

Live de lançamento do estudo Integração Sul Americana de Fontes renováveis

A intermitência é tida uma das principais fragilidades das fontes renováveis de energia solar e eólica. No ano passado, a estiagem atípica agravada pelo fenômeno La niña, pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado e pelas mudanças climáticas globais, gerou uma crise hídrica que esvaziou os reservatórios das usinas hidrelétricas. O lobby do setor de gás aproveitou este evento climático para impulsionar contratações de termelétricas, algumas agora questionadas na justiça.

Pagar a conta de luz virou um luxo

A população brasileira está pagando caro pelo mal planejamento energético. As ações desconsideraram mudanças no regime de chuvas há muito tempo previstas nos relatórios do IPCC e por climatologistas brasileiros e do exterior. Então, às pressas, o governo Bolsonaro contratou termelétricas a um alto custo, em meio a uma crise global de preço da energia fóssil. Hoje o país importa dos EUA mais de 90% do gás usado nessas usinas. E com este gás gera uma energia que nem todos os cidadãos podem pagar e que pode destruir a competitividade da indústria brasileira. 

Enquanto isso, um excedente de energia limpa é jogado fora pelas hidrelétricas brasileiras agora cheias. Essa energia poderia gerar divisas se um sistema de transmissão integrado estivesse em operação, conectando o Brasil com a Argentina e o Chile. Nesses países, o ciclo dos ventos e a incidência de luz solar em parte se alternam com os do Brasil, o que pemitiria que a energia renovável deles possa vir a ser usada quando as hidrelétricas nacionais estivessem secas. 

Entenda em dois minutos os benefícios da integração das linhas de transmissão sulamericanas para termos energia limpa e barata

Há muitos desafios para que este modelo venha a ser implantado. O principal sendo a integração dos sistemas nacionais de transmissão, uma ação que envolveria capacidade técnica, diplomática e liderança política de todos os lados. Outro é a mudança da lógica social dos projetos de energia, que só terão um valor climático se conseguirem mitigar seus impactos sobre comunidades indígenas, tradicionais e populações ribeirinhas. 

Mas os ganhos podem valer o esforço: energia renovável, limpa, barata em um sistema protegido das oscilações do câmbio e da geopolítica do norte global pode ser um elemento central em uma agenda de desenvolvimento sustentável para a América do Sul. As renováveis geram postos de trabalho seguros e bem remunerados e têm impactos sobre uma gama ampla de outros setores industriais, algo importante para uma região que vive um processo intenso de desindustrialização. 

Experiência de geração binacional com Paraguai e Argentina pode ajudar

Experiências binacionais podem servir de base para a construção desse caminho. O Paraguai é sócio do Brasil em Itaipu e da Argentina em Yacyretá. E por anos, o Brasil também adquiriu eletricidade da Venezuela para abastecer parte do estado de Roraima. Outra inspiração pode vir da Europa, onde há esforços para criar um mercado único de eletricidade desde 1990, decisão vinculada às sucessivas crises do petróleo.  

Nem todos vão ganhar, é claro. As termelétricas nestes três países provavelmente intensificariam seu esforço – nem sempre republicano – de convencer formadores de opinião e políticos de que são indispensáveis para a segurança do sistema de energia. E há ainda a sombra dos bilionários projetos nucleares, sob a batuta de militares. Um fato que conta a favor de uma integração deste tipo é que os investimentos em renováveis estão cada vez mais robustos, enquanto grandes players do setor de energia fóssil começam a entender  que esta será a única avenida de crescimento no futuro.

Para baixar o estudo completo:

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ClimaInfo, 18 de maio de 2022

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