Energia e emergência climática

Nesta aula, o gestor ambiental Ilan Zugman apresenta o histórico que culminou no aquecimento global, reflete sobre as consequências da emergência climática e, a partir da análise dos relatórios do IPCC, aponta para a responsabilidade do setor fóssil no aumento das emissões de gases de efeito estufa. Ele também fala sobre a importância da energia renovável no Nordeste para o desenvolvimento econômico e sustentável do Brasil e indica as políticas públicas necessárias para isso.

Destaques da aula:
  • O setor de energia representa 20% do total de emissões de gases de efeito estufa do Brasil, ficando atrás apenas da mudança do uso da terra e da agropecuária, que, somadas, respondem por cerca de 70% das emissões brasileiras, principalmente devido ao desmatamento e à produção de gado. Outros 10% das emissões são divididos em resíduos e processos industriais.
  • O Nordeste é uma das regiões do Brasil com o maior potencial de geração de energia renovável (solar e eólica). A região já é a que produz mais energia eólica, respondendo por 80% da energia eólica no Brasil.
  • Existem, ainda, muitos passos para aumentar essa produção, bem como a de energia solar no Nordeste.

Antes de focar na questão de energia de forma mais específica, o gestor ambiental Ilan Zugman, diretor para a América Latina da organização 350.org, explicou como a vida na Terra acontece graças a alguns serviços ecossistêmicos. Entre eles está o efeito estufa – um fenômeno natural essencial para a manutenção da vida no planeta. O problema é que, desde a Revolução Industrial, a humanidade contribuiu para intensificar o fenômeno, por meio da queima de combustíveis fósseis, fazendo com que a temperatura aumente.

Já no século 19, pela primeira vez, a humanidade passou das 300 partes por milhão (PPM) de dióxido de carbono na atmosfera. Para cada milhão de moléculas na atmosfera (valem as de todos os gases: nitrogênio, oxigênio, etc.), 300 partes são de CO2. Esses índices vêm aumentando desde então, o que trouxe consequências – o aquecimento do planeta já está 1,09°C mais quente do que o período pré-industrial, e existe uma corrida contra o tempo para evitar que essa média histórica passe de 1,5°C ou 2°C. 

As mudanças climáticas já aparecem de muitas formas no nosso dia a dia. Por exemplo, pelas secas, que vão ficar cada vez mais fortes, comprometendo a produção dos alimentos; e pelo aumento do nível do mar, que pode acabar com países insulares como os da região do Pacífico. Em muitos deles, as pessoas já tiveram de sair dos seus territórios, deslocando-se para lugares mais altos. 

O Brasil está entre os seis maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo.  As maiores emissões de gases de efeito estufa do país vêm do uso da terra e da agropecuária (70%), que envolvem desmatamento e a produção de gado, enquanto 20% são do setor da energia, e outros 10%, resíduos e processos industriais.

Mais de 70% da energia elétrica do Brasil vem das fontes renováveis, principalmente das hidrelétricas (60%). Entretanto, a matriz energética do Brasil ainda tem uma maioria proveniente das fontes fósseis. Apesar da matriz elétrica ser realmente mais renovável, ainda tem mais de 50% de fonte fóssil – isso inclui a queima de combustíveis fósseis em transporte, indústria, casas e comércio.

“Tivemos uma das maiores crises hídricas no último século no país. No ano passado [2021], os reservatórios ficaram quase vazios, muitos deles operando num nível supercrítico. O Brasil, por não ter feito um planejamento e não ter utilizado melhor o seu potencial solar ou eólico, teve de ativar muitas termelétricas fósseis, termelétricas que queimam petróleo, diesel, carvão”, explica Zugman.

O especialista completa que, se não fossem as termelétricas, o Brasil sofreria um apagão, mas elas representaram uma solução a curto prazo; não são uma solução a longo prazo. O que vai acontecer se o Brasil mantiver essa política atual de continuar investindo mais em fósseis do que em renováveis? Caso isso aconteça, diz Zugman, o Brasil vai ter, ano após ano, crises hídricas cada vez mais severas; a energia proveniente dos rios vai ficar cada vez mais ameaçada; e vamos ter de acionar cada vez mais termelétricas. 

Para Zugman, o Brasil precisa rever seu plano decenal de energia, que vai até 2030, pois o país ainda coloca mais investimentos no setor fóssil do que no setor das energias renováveis.

“O Nordeste é uma das regiões do Brasil com o maior potencial de geração de renováveis (solar e eólica). A região Nordeste já é, disparada, a que produz mais energia eólica. Mais de 80% da eólica, no Brasil, vem do Nordeste, mas ainda têm muitos passos para que se aumente isso, e, principalmente, que se aumente mais a [o aproveitamento da] energia solar. A região Nordeste ainda não é líder absoluta em geração de solar; existe a região Sudeste, com uma grande geração, principalmente em Minas Gerais e São Paulo, então, tem muito espaço ainda, na região Nordeste, para aumentar a geração da energia solar e da eólica”, discorre.

Zugman defende também que a transição energética não fique com as mesmas empresas e os mesmos governos que agravaram a crise causada pelo setor fóssil. Ele defende o incentivo, por meio de políticas públicas, para que que as pessoas gerem a sua própria energia, embora reconheça que isso é um desafio, quando a maior parte da população é extremamente pobre e está sempre pensando “o que eu vou comer na próxima refeição?”. O especialista afirma que, ao mesmo tempo, é necessário combater as principais causas das emissões no Brasil, que é o desmatamento para práticas da agropecuária.

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Alternativa de Investimento Verde Inclusivo Já – Energia

Sobre os professores:

Ilan Zugman é diretor para a América Latina da 350.org, organização que trabalha pela transição energética e pela justiça climática em conjunto com movimentos sociais e com base na ciência. Tem mestrado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Queensland, na Austrália, e experiência de mais de dez anos como ativista ambiental e gestor de campanhas.