Crise energética e boom do consumo deixa carvão mais caro e mais sujo

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Nikkey Asia/Ken Kobayashi

Mais do que ampliar o consumo de carvão, a crise energética causada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia está afetando também o mapa dos fluxos globais carvoeiros, aumentando a pegada de carbono de um combustível já excessivamente sujo.

Como a Nikkei explicou, o mercado energético europeu está recorrendo a outros fornecedores de carvão para substituir o combustível que antes vinha da Rússia, especialmente Canadá, Austrália e Indonésia. Por conta da distância geográfica maior entre esses países e a Europa, as cargas de carvão precisam percorrer rotas mais longas para chegar aos consumidores europeus – e, com isso, gastar mais combustível no transporte marítimo.

Para efeito de comparação, enquanto o transporte do carvão russo para a Europa custa em torno de três dias, os carregamentos da Ásia e da Oceania podem levar semanas para chegar aos portos europeus. Além de aumentar a pegada de carbono do combustível, o preço dele está crescendo, impulsionado pela demanda maior ao redor do mundo. O Valor também publicou essa reportagem.

O aperto energético causado pelas tensões entre Europa e Rússia fez com que a Alemanha baixasse a bola em suas pretensões para deixar de queimar carvão na geração elétrica. Minas abandonadas há uma década estão sendo reativadas para garantir o fornecimento de combustível e driblar o risco de um apagão por causa dos cortes no fornecimento de gás russo para o mercado alemão. O problema é que esse movimento vai contra as metas climáticas de Berlim e pode dificultar seu cumprimento no longo prazo – especialmente a meta de abandonar totalmente o uso de carvão até 2030. Guardian e Washington Post destacaram a retomada carvoeira na Alemanha e os riscos para a estratégia climática do país.

O cenário é parecido na Grécia. A CNN explicou que nem mesmo os eventos extremos que se avolumaram nos últimos tempos no país do sul da Europa conseguiu derrubar o carvão como fonte importante de energia. No ano passado, o governo grego chegou a prometer o fechamento de todas as suas usinas térmicas a carvão até 2023, em linha com os compromissos climáticos de Atenas sob o Acordo de Paris. Entretanto, a crise energética fez com que esse prazo fosse jogado para 2025, com a possibilidade de que o carvão siga sendo queimado no mercado grego até pelo menos 2028. Em junho de 2021, o carvão gerou 253,9 GWh de eletricidade no país; no mesmo mês, em 2022, a geração quase dobrou, chegando a 438 GWh.

 

ClimaInfo, 2 de agosto de 2022.

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