Termelétricas ameaçam Comunidade Indígena no Ceará

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Camila de Almeida

O Povo Indígena Anacé vive há séculos na região do Lagamar do rio Cauípe, entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Os primeiros registros dessa comunidade foram feitos pelo padre Antônio Vieira, já no século XVII. Nos séculos seguintes, os Anacé mantiveram uma postura de embate com os colonizadores europeus e seus descendentes, em um enredo que se arrasta até os dias de hoje. Agora, no entanto, a ameaça é mais complicada: as usinas termelétricas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).

Promessa de desenvolvimento econômico para a região, as usinas não trouxeram nada além de dor-de-cabeça para as famílias indígenas. Na 4a e última reportagem da série Termelétricas do Nordeste, da Agência Eco Nordeste, Alice Sales contou o drama dos Anacé. Primeiro, veio a desapropriação de terras para a instalação do empreendimento. Depois, os impactos dessas plantas sobre o modo de vida dos indígenas, especialmente no que diz respeito a seus hábitos de pesca e agricultura, que também foram prejudicados pela obra.

Outro problema é a divisão dentro do Povo Anacé, que se fragmentou em resposta ao projeto: uma parcela aceitou as indenizações e a realocação feita pelo governo do Ceará para viabilizar as termelétricas, enquanto outra segue contestando na Justiça pelo direito de se manter em suas terras originais.

“É um sofrimento para as pessoas não ter água em casa, ter o rio ali próximo e não poder usufruir dessa água. E nos parece coisa proposital: se eu não tenho acesso à água, saúde, educação, a tendência é que seja forçado a sair do lugar, já que não temos as necessidades básicas atendidas”, lamentou o líder indígena Paulo Anacé.

Em tempo: Mesmo depois de a Justiça ter barrado a instalação de usinas termelétricas flutuantes na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, a empresa turca Karpowership afirmou ao Valor que está pronta para colocar as plantas elétricas para funcionar. Essas usinas foram contratadas no ano passado durante o leilão emergencial feito pela ANEEL no auge da crise hídrica, com uma tarifa muito acima da média. No entanto, o empreendimento não ficou pronto dentro do prazo estabelecido no leilão e, por isso, teve seu contrato revogado pelo governo. A empresa insiste que tentará liberar na Justiça o funcionamento de suas usinas e minimizou os impactos ambientais potenciais da obra.

 

ClimaInfo, 23 de agosto de 2022.

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