Net-zero banguela: grandes empresas prometem neutralizar carbono com esquemas obscuros de offset

net zero metas
Marisa Gertz/Bloomberg

Há mais de uma década, o grupo financeiro Credit Suisse afirma compensar suas emissões de gases de efeito estufa com a compra de créditos de carbono, a tal ponto que afirma ser pioneiro no caminho da neutralidade líquida, o tal net-zero. No entanto, um olhar mais atento no tipo de crédito adquirido pela empresa mostra que a qualidade dos projetos geradores é, no mínimo, duvidosa.

A Bloomberg analisou mais de 215 mil transações do Credit Suisse e de outras empresas de grande porte, como as aéreas Delta e Air France-KLM, a petroleira TotalEnergies e os bancos Santander e Bradesco, abrangendo 190 milhões de toneladas de compensação de carbono. A investigação mostrou que estas companhias dependem fortemente do tipo de offset mais barato e suspeito para compensar suas emissões – aqueles vinculados a projetos de energia renovável.

Para especialistas, esse tipo de crédito é inútil em termos de redução de emissão pois as fontes renováveis de energia já são a mais barata na maioria dos países; ou seja, essa operação não gera incentivo novo para a adoção de energias renováveis, especialmente quando elas estão mais baratas do que a geração termelétrica a carvão ou gás.

“Eu consideraria esses créditos de baixa qualidade, que não evitaram ou reduziram as emissões de gases de efeito estufa”, explicou Julio Friedmann, cientista-chefe da consultoria Carbon Direct e um dos revisores da análise. 

A falta de qualidade desses créditos de carbono associados à energia renovável ganhou mais urgência depois do governo dos EUA anunciar uma iniciativa internacional para impulsionar o comércio de créditos decorrentes da desativação de usinas termelétricas e outras infraestruturas de energia fóssil. A viabilidade da proposta vem sendo questionada por especialistas, que criticam a falta de detalhes sobre seu funcionamento e de garantias sobre sua integridade.

 

ClimaInfo, 24 de novembro de 2022.

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