Sob dúvidas, EUA lançam plano para crédito de carbono do setor de energia

COP27 EUA mercado de carbono
Twitter AP, Joshua Goodman

Finalmente, o governo dos EUA apresentou nesta semana sua proposta para “vitaminar” os esforços de transição energética nos países em desenvolvimento com recursos obtidos por meio do mercado internacional de créditos de carbono. Encabeçado pelo enviado especial da Casa Branca para o clima, John Kerry, o projeto Energy Transition Accelerator pretende utilizar créditos de carbono associados à desativação de usinas termelétricas e outras infraestruturas de energia fóssil para arrecadar mais recursos no mercado, de forma a acelerar a adoção de fontes renováveis de energia. A iniciativa conta com apoio da Fundação Rockefeller e do Fundo Bezos Earth.

A aposta de Kerry é que o setor privado terá grande interesse nesses créditos, o que garantiria novos recursos para ação climática nos países mais pobres. “Espera-se que [o projeto] forneça reduções de emissões mais profundas e antecipadas, ajudando os países em desenvolvimento a alcançar e fortalecer suas contribuições nacionalmente determinadas (NDC) sob o Acordo de Paris e os ajude a alcançar com metas de desenvolvimento sustentável mais amplas, incluindo acesso expandido à energia. [Ele] também gerará novos financiamentos para fortalecer os esforços de adaptação em países vulneráveis”, destacou o Departamento de Estado norte-americano em nota.

No entanto, especialistas e ativistas levantaram uma série de dúvidas sobre a viabilidade da proposta e criticaram a insistência dos EUA em seguir lidando com o desafio climático pela ótica do mercado de carbono, enquanto ignora as necessidades urgentes de financiamento para os países pobres. “O que os países em desenvolvimento precisam é de previsão de financiamento, não de mercados de compensação”, assinalou Ulka Kelkar, do WRI da Índia, citada pela Folha. “A iniciativa proposta não pode compensar o fracasso dos EUA em fornecer seu quinhão de financiamento climático – estimado em US$ 40 bilhões da meta global não alcançada de US$ 100 bilhões por ano”.

Outra crítica está na falta de detalhes e regras para o funcionamento desse mecanismo e, consequentemente, a credibilidade dos créditos produzidos nele.

Por um lado, Kerry afirmou que a iniciativa está alinhada com as recomendações de um grupo de especialistas da ONU para eliminar o greenwashing dos compromissos net-zero de empresas e governos. Por outro, como assinalou o Climate Home, a proposição desses especialistas deixa uma margem pequena para o offset de emissões como estratégia para neutralizar as emissões de carbono.

Estadão e Valor também destacaram o anúncio norte-americano. No exterior, a notícia foi repercutida por veículos como Associated Press, Bloomberg, Reuters e Washington Post.

 

ClimaInfo, 11 de novembro de 2022.

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