Especialistas definem regras para compromissos “net-zero”

COP27 grupo especial net zero
UN.org

Desde que surgiram os compromissos corporativos de neutralidade climática, de emissões líquidas zero e outras variações em torno da expressão net-zero, que se tenta definir regras claras a serem seguidas por quem que assume estas metas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, montou um grupo de alto nível para esta tarefa. Ontem o grupo soltou seu relatório na COP27 apresentando as regras, e estas vieram mais rigorosas do que muitos supunham.

As regras se organizam em dois eixos principais: os inventários de emissões devem incluir todas as emissões, inclusive as da cadeia de suprimentos e as associadas aos uso e descarte dos produtos. Isso quer dizer que uma petroleira só poderá se dizer net-zero se incluir as emissões da queima dos combustíveis que produz. Um frigorífico terá que incluir as emissões do gado que abate desde seu nascimento e do desmatamento que a expansão das pastagens tenha, porventura, provocado.

O segundo eixo diz respeito ao uso de créditos de carbono para compensar emissões. Antes de sair às compras, as corporações precisam priorizar a redução drástica e urgente das emissões ao longo de toda sua cadeia de valor. Certamente existirão casos nos quais seja muito difícil ir além de determinado nível de redução. Para estes casos, créditos de carbono podem ajudar.

O grupo de alto nível, no entanto, criou condições rigorosas para assegurar a qualidade do crédito e o seu uso ou declaração. Por exemplo, projetos de carbono próximos a Comunidades Tradicionais precisam engajá-las, para que gerem benefícios positivos e mensuráveis para as populações e biodiversidade locais.

O pessoal da Axios achou o texto bom, mas ponderou que precisa passar por um teste de realidade: “As recomendações são apenas isso: sugestões e não há como impô-las às corporações multinacionais”. O Guardian e a Bloomberg também comentaram.

O Financial Times destacou as recomendações sobre a integridade dos créditos de carbono citando Mark Carney e a iniciativa que lidera. O grupo de alto nível espera que iniciativas como esta adotem e melhorem as recomendações.

Vale dizer que o ex-ministro Joaquim Levy fez parte do grupo de alto nível.

Em tempo: Um exemplo claro do que não deve ser feito foi o anúncio da Copa no Qatar. Os Qataris e a FIFA insistem em dizer que a Copa será neutra em emissões. Primeiro, a quantidade de voos, comerciais e executivos será bem alta e as emissões também. Nas comunicações dos organizadores, fica claro que as emissões relativas à construção dos estádios não foram levadas em conta. E, como o glacê do bolo, os organizadores comprarão créditos de carbono de uma certificadora do próprio Qatar que, dentre outras, se destaca por ser a única a registrar projetos de eólicas e fotovoltaicas, de há muito considerados não-adicionais. A notícia é da AP.

 

ClimaInfo, 9 de novembro de 2022.

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