Estamos no meio do caminho entre a Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh (COP27), realizada em novembro passado no Egito, e a próxima COP28, programada para Dubai (Emirados Árabes Unidos) no final deste ano. Em meio à expectativa em torno do encaminhamento das negociações sobre o fundo de compensação para perdas e danos, países ricos e pobres dão prosseguimento discreto a projetos de produção de combustíveis fósseis, o que deve intensificar a crise climática nas próximas décadas.
A Euronews fez um balanço dos últimos seis meses de conversas formais relativas à agenda climática entre os países. Na questão de perdas e danos, o cenário ainda é de incerteza, pois não houve mudanças significativas no posicionamento dos principais blocos negociadores. Já no financiamento climático em geral, novas doações de EUA e Alemanha trouxeram um pouco mais de ânimo às conversas, ainda que os famigerados US$ 100 bilhões anuais prometidos pelos países ricos sigam no papel.
Na questão dos combustíveis fósseis, o embate está mais claro, com resultados potenciais incertos. Os países produtores de petróleo e gás reforçaram sua oposição à programação de um fim para o consumo global de combustíveis, o que foi encampado formalmente pelo presidente designado da COP28, o também executivo petroleiro Sultan Al-Jaber.
Na contramão do que a ciência coloca como fundamental para evitar uma crise climática mais profunda, o futuro chefe da Conferência vem reiterando em discursos que o mundo seguirá precisando de combustíveis fósseis nas próximas décadas.
Na outra ponta, a União Europeia está debruçada sobre uma nova proposta para impulsionar a adoção de fontes de energia limpa como uma alternativa à definição de uma data para o fim dos combustíveis fósseis. Na COP27, o bloco europeu defendeu abertamente a adoção de um cronograma para acabar com a queima de energia fóssil, mas foi derrotada pelos países produtores. Para a COP28, a ideia dos europeus é propor uma meta global para a energia renovável, sem endereçar necessariamente o fim da energia fóssil. A Bloomberg deu mais informações sobre esta movimentação.
Ainda no tópico dos combustíveis fósseis, a polêmica da vez é a proposta de aliança apresentada pelos Emirados Árabes com empresas de petróleo e gás para “neutralizar” as emissões associadas à produção de combustível até 2050. Como o Climate Home apontou, o plano deixa fora a maioria esmagadora (entre 80% e 95%) das emissões associadas à energia fóssil, decorrentes de sua queima dos combustíveis pelos consumidores.
“[As empresas de combustível fóssil] estão falando sobre tudo, menos sobre a única coisa que realmente importa na redução das emissões, que é a redução da produção de petróleo e gás”, disse Romain Ioualalen, ativista da Oil Change International. “Enquanto estes não forem os termos da discussão, não pode ser descrito como um esforço legítimo”.
ClimaInfo, 15 de maio de 2023.
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