Créditos de carbono provenientes da proteção de florestas podem estar sendo superestimados

18 de janeiro de 2023

O mundo dos projetos de carbono que protegem de florestas contra o desmatamento sofreu outro abalo com a divulgação de estudos mostrando falhas nas metodologias que superestimaram o número de créditos de carbono emitidos.

O tiro foi dirigido à principal entidade que emite créditos de carbono dos projetos de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – de florestas), a Verra-VCS. Dois estudos recentes que foram publicados, um na Conservation Biology e outro na arXiv, analisaram dezenas de projetos de REDD ao redor do mundo e estimam que 94% dos créditos recebidos por estes projetos não corresponderam a emissões realmente evitadas por protegerem áreas florestais.

As falhas metodológicas vêm sendo repetidamente levantadas e os autores dos estudos apontam (e a própria Verra admite) que este é um campo minado. Um projeto de REDD recebe um volume de créditos proporcional às árvores que não foram derrubadas graças à existência do projeto. Essa adivinhação do futuro é o calcanhar de Aquiles do REDD.

As metodologias aprovadas pela Verra procuram levar em conta intervenções humanas com potencial de aumento do desmatamento. Segundo os estudos, estas estimativas levam a um número irreal de créditos de carbono. A Verra se defendeu dizendo que os estudos são falhos.

O que espanta não são as falhas metodológicas; afinal, o mundo dos créditos de carbono é calcado nesses contrafactuais – adivinhar qual teria sido o volume de emissões na ausência dos projetos. O que espanta mesmo é a dimensão do erro apontado pelos pesquisadores. O tamanho do problema aumenta exponencialmente quando se leva em conta que a Verra domina o mercado dos créditos de carbono e que ela mesma estima que dos bilhões vendidos a cada ano, cerca de um terço vem de projetos de REDD.

A matéria foi feita em conjunto pelo Guardian, Source Material e Die Zeit.

Em tempo: O grupo de mídia Liberal, de Belém (PA), lançou o site Liberal Amazon e publicou uma matéria sobre os projetos de REDD levantando a questão sobre quem tem direito aos créditos de carbono. A pergunta é importante, levando em conta que quase 80% da floresta amazônica estão em Terras Indígenas, em Unidades de Conservação, em  territórios de comunidades tradicionais e em terras públicas não destinadas. Um projeto de carbono nessas áreas teria que fazer acordos com as populações envolvidas ou com os governos. Em um ambiente repleto de grilagem e de invasões de garimpeiros e madeireiros, projetos de carbono nessas áreas só aumentam o apetite do crime organizado. O Liberal aponta que “é conveniente sugerir que, para evitar a ‘grilagem do carbono’ na Amazônia, quaisquer contratos de cessão de direitos sobre créditos de carbono em territórios protegidos e coletivos ocorram com o consentimento livre e informado das populações e após à existência de um plano de manejo/gestão que contemple as atividades de REDD+ e que aponte as formas de repartição de benefícios, os custos de implementação das atividades, o modelo de gestão dos recursos, os mecanismos de controle social e de resolução de conflitos sobre a aplicação desse recurso e sobre todas as etapas do projeto”. Amém.

 

ClimaInfo, 19 de janeiro de 2023.

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