Inverno ameno afasta fantasma do racionamento de energia na Europa

Europa inverno gás
Matthias Schrader/AP

Passado quase um mês desde o começo do inverno no hemisfério norte, os países da União Europeia respiram aliviados sem a preocupação de um colapso no fornecimento de energia para seus consumidores. Para tanto, eles contaram com dois fatores importantes: dinheiro (aliás, muito dinheiro), e sorte.

O bloco passou os últimos 10 meses correndo atrás de fontes alternativas de energia para substituir o gás natural russo, cortado pelo governo de Vladimir Putin depois das sanções da UE contra Moscou, em virtude da invasão à Ucrânia em fevereiro do ano passado. O grande temor era de que, sem esse gás, a Europa chegasse ao inverno com estoques limitados de energia.

Novos acordos de fornecimento de gás foram assinados com países na Ásia Central e no Golfo Pérsico, além dos EUA. Infraestruturas para transporte e armazenamento de gás, principalmente liquefeito, foram construídas praticamente da noite para o dia. Ao mesmo tempo, a UE aliviou algumas restrições ao uso de outras fontes fósseis, principalmente carvão, para geração de energia elétrica no curto prazo.

Tudo isso certamente ajudou, mas aí vem a questão da sorte: ao menos até aqui, o inverno de 2022/2023 tem sido um dos mais quentes da história recente da Europa. O clima mais ameno diminuiu a demanda média por energia, aliviando os estoques e permitindo que a Europa, ao menos no curto prazo, se livre definitivamente do fantasma do racionamento de energia.

Será esta uma “vitória europeia” contra a chantagem energética de Putin, como diversos veículos (Bloomberg, Fortune, POLITICO e Wall Street Journal, entre outros) vêm colocando? Tudo depende dos médio e longo prazos.

Estruturalmente, a rede energética europeia ainda depende do fornecimento russo para funcionar plenamente e, ao menos por ora, ainda não existe um fornecedor alternativo capaz de vender gás ou outro tipo de energia no volume necessário para substituir totalmente o gás russo. Mudar tudo isso custa tempo – e muito mais dinheiro do que aquele gasto pelos europeus até agora.

Em tempo 1: Qual é o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre os esforços climáticos globais? Quase um ano depois da invasão das tropas de Putin ao antigo aliado soviético, os efeitos da guerra sobre a questão climática ainda não estão claros. Como bem assinalou David Gelles no NY Times, a indústria dos combustíveis fósseis vem ganhando bastante com o aumento dos preços do petróleo, gás natural e carvão no último ano, o que vem garantindo rendimentos históricos. Tudo isso é obviamente ruim para o clima. Ao mesmo tempo, as energias renováveis também ganharam impulso adicional, vistas como uma maneira de garantir independência energética aos países. Isso, por outro lado, é bom para o clima.

Em tempo 2: Os protestos de ativistas climáticos em Lützerath voltaram a ganhar destaque na imprensa internacional nesta 3a feira (17/1). Policiais alemães detiveram milhares de manifestantes, entre eles Greta Thunberg, que foi carregada pelos agentes até um ônibus do lado de fora do vilarejo. Os ativistas protestam contra o projeto de demolição da comunidade para expansão de uma mina de carvão a céu aberto. O g1 deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 18 de janeiro de 2023.

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