Geoengenharia solar, a mais nova “solução mágica” perigosa para a crise climática

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A discussão técnica em torno de soluções para a crise climática sempre foi um campo fértil para ideias mirabolantes. A busca pela “bala de prata” une cientistas, governos e até mesmo empresas petroleiras, todos interessados em alguma alternativa que não comprometa o business-as-usual do último século – ou seja, a queima de combustíveis fósseis e a liberação de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre.

A ideia de jerico da vez é a geoengenharia solar – ou seja, intervenções tecnológicas que desviem parte da radiação solar que aquece a atmosfera terrestre para o espaço. A proposta não é exatamente nova, mas ganhou “respeitabilidade”, por assim dizer, nesta semana após um grupo de mais de 60 cientistas da Europa e da América do Norte divulgar uma carta pedindo novos estudos sobre o tema.

“Embora a redução das emissões [de gases de efeito estufa] seja crucial, nenhum nível de redução realizado agora pode reverter o efeito de aquecimento das emissões do passado e do futuro”, argumenta o grupo. “Em contraste, as emissões de particulados (aerossóis) podem atuar para resfriar o clima. Os aerossóis esfriam o clima espalhando a luz do sol e, quando se misturam com as nuvens, podem aumentar a refletividade e a vida útil das nuvens”.

Na carta, os cientistas reconhecem que essa tecnologia pode ter efeitos colaterais ainda desconhecidos. Exatamente por isso, eles defendem mais estudos sobre o tema, para entender melhor esses efeitos e o potencial de resfriamento da atmosfera terrestre.

No começo da semana, o Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou o relatório de um painel independente de especialistas sobre geoengenharia solar. O documento ressalta que o uso dessa tecnologia neste momento seria “imprudente” e que ela não pode substituir medidas efetivas para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Entre os riscos potenciais da geoengenharia solar, estão danos à camada de ozônio, impactos desiguais sobre a Terra, risco de desequilíbrios de poder e conflitos entre países, além do chamado “choque de rescisão”, pelo qual uma interrupção repentina da pulverização de partículas desencadearia um aquecimento repentino da atmosfera.

“O PNUMA concorda com o painel que, atualmente, a implantação em grande escala ou operacional de tecnologias de modificação da radiação solar (solar radiation modification, SRM) não é necessária, prudente ou suficientemente segura, dada a compreensão científica limitada e incerteza sobre os impactos potenciais e consequências não intencionais”, afirmou Andrea Hinwood, cientista-chefe do PNUMA.

A carta dos cientistas e o relatório do PNUMA foram repercutidos por CNBC, Fortune, Guardian, Independent e New Scientist. Já TIME e Washington Post abordaram os interesses econômicos e estratégicos em torno da geoengenharia solar.

ClimaInfo, 2 de março de 2023.

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