Boom de energia verde não impede crescimento do carvão na China

China renováveis x carvão
REUTERS/Crack Palinggi

A China de Xi Jinping vive um paradoxo: o país segue na liderança global da expansão na geração de energia renovável; ao mesmo tempo, investe cada vez mais na queima de carvão para eletricidade, sendo responsável sozinha por mais da metade da demanda global por esse combustível fóssil.

Ao que parece, essa ambiguidade deve continuar por algum tempo. Em discurso na abertura do Congresso Nacional do Povo em Pequim, no último domingo (5/3), o primeiro-ministro Li Keqiang ressaltou que o carvão seguirá sendo central para a estratégia energética do governo chinês.

Dados da agência de planejamento energético da China mostraram que o carvão respondeu por mais de 56% de sua demanda de eletricidade no ano passado. A sinalização do governo chinês é de que o carvão seguirá crucial em 2023, especialmente por conta da instabilidade dos preços da energia ao redor do mundo.

“Fortaleceremos o papel básico do carvão [e] tomaremos medidas ordenadas para aumentar a produção avançada de carvão, garantindo a segurança”, disse a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC) em relatório ao Congresso Nacional do Povo, citada pela Reuters.

A promessa de Pequim é que os gastos com carvão não prejudicarão os investimentos em fontes renováveis de energia. De acordo com a Bloomberg, o governo reforçou que pretende seguir com grandes projetos de geração renovável, armazenamento de eletricidade e modernização da rede elétrica em 2023, além de reduzir em 2% sua intensidade energética.

Curiosamente, a abertura da sessão deste ano do Congresso Nacional do Povo aconteceu sob um céu tomado por fumaça em Pequim. As autoridades chinesas demoraram para  restringir a operação de fábricas e usinas no entorno da capital, medida comum nos últimos anos para garantir um céu limpo em ocasiões especiais. Para piorar, uma convergência de fatores meteorológicos fez com que a fumaça ficasse parada sobre a cidade, escurecendo o céu. Bloomberg e Reuters abordaram essa situação.

Em tempo 1: Dois megabancos anunciaram na semana passada restrições ao financiamento de projetos de carvão, informou a Reuters. O Deutsche Bank definiu que não aceitará como novos clientes corporações que geram mais de 30% de sua receita a partir de operações de carvão e que não fornecem um “plano de diversificação confiável”. Já o Citi apresentou metas para redução de emissões vinculadas a operações de crédito para mineração de carvão, além da construção civil e da indústria siderúrgica e automobilística. O banco prevê uma queda de 90% das emissões absolutas de empréstimos para atividades carvoeiras até 2030 em relação a 2021.

Em tempo 2: O carvão também é um problema na África do Sul. O país assinou um acordo bilionário para impulsionar a geração renovável de energia e a substituição de suas usinas de carvão. No entanto, como o NY Times abordou, a recorrência de apagões e falhas na rede de transmissão e distribuição estão dificultando essa transição, com alguns setores defendendo a modernização das usinas termelétricas atuais, ao invés de sua substituição por plantas com fonte renovável.

ClimaInfo, 7 de março de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.