Energia de 3 mil bombas atômicas: o poder do ciclone Freddy na costa africana

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Le Monde

Poucos dias após a dissipação do ciclone Freddy, que atingiu o sudeste africano, a quantidade de mortos, feridos e desabrigados em Moçambique, Malawi e Madagascar não para de subir. Neste domingo (19/3), autoridades dos três países contabilizaram 522 mortes, informa a Al-Jazeera. Os desabrigados superaram 183 mil, e 500 mil pessoas ao todo foram afetadas pela tempestade, de acordo com o Le Monde.

Além da tragédia humana, números impressionantes mostram a força inédita do ciclone. Cientistas finalizam análises para confirmar a suspeita de que Freddy bateu todos os recordes para um ciclone na história. E um alerta ganha força: a tendência é que eventos climáticos extremos similares se tornem mais comuns e rotineiros.

Surgido na costa da Austrália no início de fevereiro, Freddy foi a primeira tempestade tropical a cruzar o Oceano Índico em 23 anos. Após se deslocar por mais de 8 mil quilômetros, o ciclone atingiu o sudeste da África duas vezes nas últimas semanas e gerou uma energia acumulada equivalente à de quase 3 mil bombas de Hiroshima, superando alguns marcos meteorológicos mundiais, informa o Um Só Planeta.

Em seu pico, em 21 de fevereiro, Freddy teve rajadas de vento de até 270 km/h, tornando-se uma tempestade de categoria 5 – a mais alta na escala Saffir-Simpson, usada para medir a intensidade do ciclone. No dia seguinte, foi atualizado para um “ciclone tropical muito intenso”, linguagem científica para “fora do gráfico”, aponta o Conversation.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) está criando um comitê para verificar se Freddy quebrou o recorde de ciclone tropical mais duradouro, com pelo menos 36 dias, informa o Guardian. O índice usado para medir a energia ciclônica acumulada – liberada por um ciclone tropical – estima que ele teve energia equivalente a toda uma temporada de furacões na América do Norte. Assim, superou o recorde anterior de energia ciclônica acumulada estabelecido pelo ciclone Fantala, que se formou no sudoeste do Oceano Índico em 2016, mostra o npr.

Mesmo com o fim de Freddy, a chuva continuou a dificultar os esforços de resgate, com veículos tentando circular em estradas inundadas. No Malawi, onde as inundações varreram aldeias inteiras, policiais e soldados buscavam vítimas enterradas sob a lama e pedras, relata a Reuters. “Muitas áreas estão inacessíveis, restringindo o movimento de equipes de avaliação e humanitárias e suprimentos para salvar vidas. A verdadeira extensão dos danos só será revelada quando as avaliações forem concluídas”, disse à AP o diretor do Programa Mundial de Alimentos no Malawi, Paul Turnbull.

Em tempo: No Peru, pelo menos sete pessoas morreram e quase 11 mil foram afetadas pelo ciclone Yaku, que atingiu o norte do país nos últimos dias, informa o Mongabay. Foram registrados 1.500 desabrigados e 4.500 residências danificadas por chuvas torrenciais e deslizamentos entre 4 e 16 de março. Segundo o Instituto Nacional de Defensa Civil (INDECI) do país, 58 pessoas já perderam a vida desde o início da estação chuvosa, que começou há alguns meses, de acordo com a Reuters. Para o El País, a tragédia é causada pela falha recorrente nos sistemas de prevenção e a pouca atenção dada ao patrimônio pré-hispânico, já que sítios arqueológicos peruanos mostram que os Povos Originários não construíam próximo a rios.

ClimaInfo, 20 de março de 2023.

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