COP do petróleo e gás: o jogo duplo dos Emirados Árabes na COP28

COP28 petróleo
Giuseppe Cacace/AFP

Anfitrião da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP28), os Emirados Árabes Unidos estão preparando uma expansão em seus projetos de óleo e gás nas próximas décadas, na contramão do que a ciência aponta como o caminho seguro para evitar as piores consequências da mudança climática.

O Guardian detalhou esse absurdo. A estatal ADNOC, administrada pelo futuro presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, prevê novos projetos de produção de petróleo, com produção potencial somada de cerca de 7,5 bilhões de barris. De acordo com a Agência Internacional de Energia, 90% dessa reserva precisa permanecer debaixo do solo se o país quiser realmente contribuir para limitar o aquecimento global em 1,5oC neste século.

Uma análise da Urgewald, baseada em dados da Rystad Energy, mostrou que a ADNOC é a 3a empresa de combustíveis fósseis com pior alinhamento em seus projetos futuros para a neutralidade das emissões de gases de efeito estufa até 2050. A empresa está atrás apenas da QatarEnergy e do mastodonte petrolífero Saudi Aramco.

Essas informações deixam o executivo Al-Jaber em uma situação ainda mais delicada. A indicação dele para a presidência da COP28 vem sendo bastante questionada por ativistas climáticos e observadores, que apontam para o conflito de interesses de ter um executivo graúdo da indústria petroleira no comando das negociações multilaterais para afastar o mundo dos combustíveis fósseis.

O mal-estar ficou maior nas últimas semanas, depois de participantes de um evento internacional sobre clima e saúde nos Emirados Árabes serem “aconselhados” pelos organizadores a não protestar ou “criticar corporações”, sob a justificativa de que essas ações seriam crime pela lei local.

“Entendemos que a mudança climática pode ser um assunto controverso e acolhemos todas as perspectivas e opiniões no discurso civil em toda a agenda do programa. Protestar é crime nos Emirados Árabes Unidos, e qualquer caso de protesto perturbador será resolvido pelas autoridades locais”, disseram os organizadores do evento, citados pelo Financial Times.

A postura dos futuros anfitriões da COP28 levanta dúvidas sobre a forma como manifestações da sociedade civil, comuns em todas as Conferências do Clima, serão tratadas pelas autoridades do país. O temor é parecido com o que foi observado no ano passado no Egito, um país ditatorial que impede qualquer tipo de protesto. A Folha também abordou essa preocupação.

ClimaInfo, 5 de abril de 2023.

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