Brasil não precisa investir em geração elétrica a gás natural, diz Banco Mundial

Brasil renováveis x gás
Lalo de Almeida - Folhapress

No mesmo relatório em que aponta que a destruição da Amazônia e eventos climáticos extremos podem causar um prejuízo de quase R$ 1 trilhão ao Brasil, o Banco Mundial sugere caminhos para a geração elétrica no país. Para a instituição, é desnecessária a contratação de 8 gigawatts (GW) em termeletricidade a gás fóssil, prevista na lei de privatização da Eletrobras, de 2021.

A despeito de quem defende a eletricidade a gás natural como necessárias para garantir energia firme, o banco diz que o país tem que aplicar esses recursos em fontes renováveis. Particularmente em eólicas em terra (onshore) e no mar (offshore) – esta última ainda dependente de regulamentação.

“Os 8 GW adicionais de capacidade de gás não são necessários, mesmo com maior escassez de água. Renunciar aos 8 GW adicionais de capacidade do gás representaria uma economia para o Brasil de 20% em custos do sistema elétrico no cenário convencional, que cairia de R$ 374 bilhões para R$ 250 bilhões”, calcula o Banco Mundial, em uma projeção de custos para o ano de 2050, destaca a Folha.

De acordo com a instituição, o custo de investir em energias renováveis sairia apenas 2,5% maior do que o gasto no cenário convencional sob estresse hídrico. Seriam R$ 442 bilhões contra R$ 431 bilhões, de acordo com modelos matemáticos do estudo, que soma custos de investimento, geração, transmissão e operação e também de déficit.

Desde o período de transição, o governo Lula questionava a contratação de 8 GW a gás fóssil nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, incluída por parlamentares na lei que autorizou a privatização da Eletrobras. E em audiência pública na Câmara na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, confirmou que essa obrigatoriedade está sendo revista, informa O Globo.

Outro descabimento do governo do inominável envolvendo térmicas a gás fóssil continua pesando no bolso do consumidor brasileiro. Usinas contratadas em leilão emergencial em outubro de 2021 estão deixando de pagar penalidades ou operando mesmo sem necessidade.

Segundo cálculos da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (ABRACE), está suspensa a cobrança de R$ 13 bilhões em multas e penalidades. Esse valor, que já poderia ter sido revertido para a tarifa de energia, levaria a uma redução de 5,2%, em média, na conta de luz. Há também um grupo de térmicas operando mesmo depois de descumprirem os contratos, e os consumidores de energia já pagaram R$ 1,2 bilhão na tarifa por esse serviço, detalha a Folha.

Em tempo 1: Que ninguém se anime em pensar que a ideia do governo é abolir o uso do gás. O novo diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, disse que a companhia vai priorizar as indústrias no fornecimento do combustível fóssil, relata a epbr. Esse plano já havia sido dado por Silveira, no lançamento dos estudos do programa Gás para Empregar, para aumentar a competitividade do gás fóssil. O Gás para Empregar também anima Sérgio Bacci, novo presidente da Transpetro, subsidiária de transporte e logística da Petrobras. De acordo com a epbr, o objetivo da empresa é assumir a operação e manutenção de novos dutos e terminais que serão construídos a partir do programa.

Em tempo 2: O Brasil está entrando no período seco com um nível extraordinário de armazenamento de água nos reservatórios hidrelétricos – o que se traduz em menor necessidade de acionar termelétricas e, com isso, poluir menos e pagar mais barato pela energia elétrica. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as hidrelétricas que atendem ao Sistema Interligado Nacional (SIN) devem encerrar maio com níveis de armazenamento superiores a 80% em todas as regiões. No Sudeste/Centro-Oeste os níveis armazenados podem chegar a 88,1%. Caso o prognóstico se confirme, será o maior volume dos reservatórios da região para o mês desde o início da série histórica, em 2000, detalha o UOL.

Em tempo 3: Em entrevista ao Estadão, Tolmasquim, disse que a companhia vai ser “esverdeada”, mas “sem matar a galinha dos ovos de ouro”. Em resumo, o executivo relatou que a Petrobras vai investir em fontes renováveis de energia – embora ninguém saiba direito como e no que a estatal vai aplicar esses recursos -, mas vai continuar apostando no crescimento da exploração e produção de petróleo e gás fóssil. À epbr, o diretor falou em “diversificar o portfólio de renováveis e não ficar apenas na eólica offshore”, mas sem precisar tais ações. “Temos aí tecnologias onshore, a questão do hidrogênio. O CCUS [sistema de captura e uso de carbono] também é forte candidato. Então a ideia é diversificar essas fontes na área de baixo carbono.”

ClimaInfo, 8 de maio de 2023.

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