Estudo: calor histórico de abril no Mediterrâneo seria “impossível” sem mudança do clima

Europa calor histórico
AP / Santi Donaire

O calor extremo que atingiu a Península Ibérica e partes do norte da África na semana passada teria sido “quase impossível” sem a crise climática. É o que aponta um relatório da World Weather Attribution (WWA), cujos pesquisadores estudam a ligação entre eventos extremos e mudanças climáticas.

A “onda de calor precoce excepcional” envolveu “temperaturas locais até 20 graus mais quentes do que o normal e recordes de abril sendo quebrados em até 6 graus”, relata o documento. As temperaturas recordes em abril na Espanha, em Portugal e no norte africano foram 100 vezes mais prováveis ​​devido às mudanças climáticas, informa a AP. Tais temperaturas só tendem a ocorrer em julho.

No Marrocos, recordes locais foram quebrados com temperaturas acima de 41°C em alguns lugares, enquanto na Argélia ultrapassaram os 40°C. E de acordo com o phys.org, a Espanha registrou o abril mais seco e quente desde pelo menos 1961, quando esses registros começaram, disse a agência meteorológica nacional AEMET.

Os cientistas disseram que esse calor excepcional no início do ano é especialmente prejudicial, já que as pessoas estão menos preparadas para ele do que no verão. Além disso, ressalta o Guardian, os agricultores já sofriam com uma seca prolongada, e a nova onda de calor atingiu a região num momento importante da temporada de cultivo, principalmente para o trigo.

E o futuro não é nada animador. “A onda de calor foi um evento raro nos climas atuais, mas um evento tão extremo teria sido quase impossível nos climas mais frios do passado, e veremos ondas de calor mais intensas e frequentes”, disse Sjoukje Philip, do Instituto Meteorológico da Holanda, um dos pesquisadores que conduziu o estudo.

“O Mediterrâneo é uma das regiões mais vulneráveis ​​às mudanças climáticas na Europa”, disse Friederike Otto, do Imperial College de Londres, também participante da pesquisa. “Essas ondas de calor definitivamente não vão desaparecer, então esses tipos de condições ocorrerão cada vez com mais frequência até que paremos de emitir gases de efeito estufa.”

A onda de calor extremo no Mediterrâneo também foi noticiada por New York Times, Bloomberg, ABC e Carbon Brief.

Em tempo: O ministro da Transição Ecológica da França, Christophe Béchu, disse que os Pirineus Orientais, que fazem fronteira com a região espanhola da Catalunha, serão oficialmente declarados em nível de “crise” de seca a partir de 10 de maio. A partir desta data, estará proibido lavar carros, regar jardins e encher piscinas, informa a BBC. “Os Pirineus Orientais não tem um dia inteiro de chuva há mais de um ano. Com uma crise como esta, é realmente muito simples: é água potável e nada mais”, disse Béchu. A Folha ressalta que a previsão é que a chegada do verão europeu torne o quadro ainda mais severo. “A situação já é dramática nessa região, mas, se não tivermos chuva em maio, o problema se estenderá para outras áreas do país, de Bordeaux até Marselha”, afirma o hidrólogo David Labat, professor da Universidade de Toulouse, no sul da França.A seca também fez a Nestlé Waters, proprietária de marcas como Vittel e Perrier, suspender as operações em dois poços usados ​​para produzir sua água Hepar na região de Vosges, no leste francês, informa o France24. “Como todo o setor, a Nestlé Waters enfrenta o agravamento das condições climáticas, com eventos mais intensos e frequentes, como secas regulares seguidas de fortes chuvas, que afetam as condições operacionais de alguns poços em sua planta nos Vosges”, disse o grupo.

ClimaInfo, 8 de maio de 2023.

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